bia :) 16/04/2022
Dê poder a um homem, e verás quem ele é
Iniciando a resenha com uma citação de Maquiavel porque achei cabível ao contexto do livro que, apesar de tratar apenas de crianças, faz total sentido. Selecionei esse livro ao acaso por conta de sugestões automáticas e comecei a ler porque o título me intrigou, descobri, entretanto, que não se tratava de um livro de ficção comum e gostei ainda mais. Meninos perdidos em uma ilha, sozinhos, sem nenhum tipo de ferramentas, livres e desprotegidos e a grande relação com a construção de uma sociedade, surreal, não é?
O autor mostra que no início uma sociedade é formada por necessidade, comodismo, conforto, que todos ficam felizes e plenos com o conjunto, depois, com a criação de regras e "leis", tudo começa a incomodar um pouco. O líder, escolhido democraticamente, tem um ideal mais conservador, que busca apenas uma coisa: o resgate, Ralph, tão criança quanto os outros, se põem à frente das decisões, liderando o grupo e tentando manter a fogueira acesa como sinal. Assim como em muitas comunidades, muitas pessoas não concordam com os ideais e, da forma que condiz, tenta alcançar os próprios. Nessa obra temos a visualização de dois tipos de "governos", digamos assim, o governo de Ralph, centrado, em busca de resgate, que preza pela segurança, come delegação de funções, mas que é falho em muitos aspectos, os pequenos não são capazes de fazer algumas funções, são medrosos e sentem necessidade de estarem acompanhados nos momentos difíceis, os outros não tem disciplina para conseguir manter uma fogueira acessa ao alto da montanha, alguns, ainda, reclamam da posição alheia e mal mudam as próprias. O que nos leva ao governo de Jack, surgido após uma rebelião, uma discordância escancarada acerca das ideias de Ralph, Jack prezava por brincadeiras, por caçar e por ser visto como chefe. Um governo autoritário, que foi aos poucos tornando-se cada vez mais ditatorial, no qual era proibido se opor, ganhou muitos por conta de coisas que enchiam os olhos daqueles que não tinham nada e, aqueles que não concordavam, se tinham coragem de não concordar, eram obrigados a se juntar a "tribo". São tantos aspectos desenvolvidos ao longo de um livro que nem é tão grande que ficaria impossível dizer aqui sem que ficasse ainda maior, mas, é sensacional a forma que o autor conseguiu abordar um assunto tão difícil de forma tão esclarecida. É muito bom, traz reflexões sociológicas e filosóficas, dissertando sobre política e história e você não sente o peso inicialmente, só entende quando tudo chega ao ápice e você percebe: caramba! Recomendo demais a leitura, um daqueles livros que com o tempo a gente imagina que poderia facilmente ser escrito nos dias atuais, afinal, a história sempre se repete.