Polly 23/08/2023
O Duplo: pertubador (#187)
[TALVEZ HAJA SPOILER PARA ALGUMAS PESSOAS]
Como definir O Duplo senão como perturbador? Sei que existem pessoas que conseguem ver o lado cômico da narrativa, eu mesma consigo enxergar essa intenção nas ironias de Dostoiévski a cada parágrafo, a cada vez que o narrador chama o protagonista de “nosso herói”, mas a experiência de ler o livro, para mim, foi angustiante, e nada cômica. Ver Golyádkin enlouquecer a cada capítulo foi um tanto perturbador, eu confesso.
A narrativa é estranha, intencionalmente (acredito eu) confusa e muitos nós da história ficam soltos, até mesmo para os leitores mais atentos. A ideia - aqui, mais uma suposição minha - é fazer com que o leitor tenha o mesmo sentimento de confusão experimentado por Golyádkin. E, ainda que o final seja claro, não conseguimos saber o que foi real ou apenas imaginação do pobre Golyádkin.
Mas, contando um pouco do enredo, Golyádkin é um funcionário público do mais baixo escalão do serviço público da Rússia, que deseja muito ascender socialmente - mas, que sabe que aquilo jamais se realizará - e enlouquece por isso, por esse desejo impossível de alcançar. E, mesmo sabendo que não conseguirá chegar na posição social almejada, Golyádkin tenta as mais loucas empreitadas para mudar essa realidade, que só o fazem afundar mais e mais e conseguir ainda mais rejeição social. Golyádkin vai se enterrando dentro de si mesmo cada vez mais. Até implodir.
Não sei se indico a leitura. Acho que esse é daqueles tipos de livro que não aceitam meio termo: ou se ama ou se desgosta (de com força, como se fala no meu país Pernambuco).