Edilaine 31/12/2023
O velho choque que o machismo causa ...
Estava bastante empolgada pela leitura do Volume I, no qual Junito de Souza Brandão, explora brilhantemente os Mistérios de Elêusis, mas este segundo volume foi indo ladeira abaixo com a bizarra interpretação do mito de Eros e Psiquê, e para mim, foi muito difícil lidar com o sexismo imbuído nessa análise.
A insistência do autor em tachar as culturas matrilineares como uma espécie de seita de "ódio aos homens", se afasta - e muito - da narrativa do mito, que carrega seu teor psicológico no próprio nome, e vai na contramão do trabalho que claramente influenciou esse capítulo, o livro Eros e Psiquê de Erich Neumann.
Aqui, Junito S. Brandão mostra uma fixação em denegrir as antigas sociedades da Deusa Mãe (que aliás, na época da primeira publicação desse livro, 1987, pesquisadoras como Marija Gimbutas, Merlin Stone e Riane Eisler, já haviam provado como tais sociedades possuíam estruturas mais igualitárias e eram centradas em relações de parceria e não de dominação ou exclusão.), o que soa como pavor masculino de que "se as mulheres tivessem chances, fariam conosco tudo o que já foi feito com elas", e ideias assim ajudam a perpetuar a desigualdade e o embate de gêneros.
Bem, ainda acho que um trabalho com esta extensão e profundidade em estudos clássicos por um autor brasileiro deva ser valorizado, mas seguirei para o terceiro e último volume com o pé um pouquinho atrás, e desapontada (mas - infelizmente - não surpresa) que um pesquisador tão notável só consiga tratar figuras femininas com certo apreço quando a função narrativa destas se limita a algo como ser amante de Zeus.