Mandark 14/04/2024O poder avassalador das memórias...Não me lembro o que fazia ou quais minhas impressões exatas, para além das minhas anotações no histórico do Skoob, quando pela primeira vez me aventurei nas páginas do Fahrenheit 451 do Bradbury. Lembro que foi um livro tocante e marcante, que me deixou reflexivo e que me fez correr atrás de diversos outros títulos do Ray. Quando eu mais uma vez me aventurei nessa narrativa, foi com o objetivo claro de uma leitura mais compenetrada e atenciosa, com o intuito de arrebatar do livro o máximo de reflexões para o compartilhamento durante a aula que eu teria sobre essa obra na universidade. E que surpresas me aguardavam nessa releitura...
Primeiramente, joguei por terra muitas das lembranças desvirtuadas que faziam parte da minha associação mental com essa obra. Percebi que criei muitas memórias falsas sobre esse enredo, que não chegavam a ir contra a essência da obra, mas com certeza vieram de uma mistura não intencional com milhares de outros enredos que li na última década.
Então, ao reler cada página novamente, fui reconstruindo e redescobrindo minhas impressões sobre um livro forte e cheio de referências e, acima de tudo, um livro com uma proposta e um posicionamento claro sobre o papel da literatura na formação da humanidade e na sua manutenção também.
Montag é um personagem arrancado de sua zona de conforto pelos encontros que ele tem com pessoas tocadas pelo poder da memória literária, pessoas que enxergam para além da rotina e do superficial, buscando sentindo nas sensações, no diálogo e nas elucubrações solitárias da contemplação analítica da vida.
E, para além da ficção, Bradbury não perde a oportunidade de reforçar no Posfácio e na Coda um posicionamento que não ficou claro para mim na minha primeira leitura, mas que ele faz questão que esteja presente na mente dos seus leitores. Não vou entrar em detalhes sobre esses trechos tão controversos, mas não posso deixar de dizer que ele me fez rever meus próprios conceitos sobre o tema.
Enfim, é um livro marcante, revolucionário e que guardo no coração, agora com mais clareza e sem falsas memórias. Uma ode ao poder da literatura como um grande guardião de memórias e um seguro para as futuras gerações sobre os impactos do tempo, da tecnologia e da cultura na história da humanidade.