Antonio 01/05/2015
Portão escancarado
Em A chave de casa, momentos diferentes que compõem a mesma história vão se intercalando durante a narrativa, de maneira natural, sem quebra: o que conta da estudante paralisada em seu quarto fechado; o que diz da jovem que viaja à Turquia e a Portugal para encontrar o que já se foi; o que fala sobre o relacionamento conturbado da protagonista com um homem violento; o que desvela a ternura do amor entre uma mãe e uma filha – todos enredados, fazendo-nos passear pelo tempo.
Nesta história linda, lírica, forte, tocante, doída, Tatiana Salem Levy nos fala de perdas, de ganhos, de imobilidade, de viagem, de afeto, de ódio, de herança, de esperança, de peso do passado no presente, de luta por um futuro melhor – e fala ora gritando, ora sussurrando, ora em silêncio.
Com muito vigor, mas também muito tato, a autora conseguiu com este livro produzir imagens, incitar raiva, liberar prazer, provocar angústia, acalmar tristeza, deixar um gosto de pastel de nata na boca... enfim, fazer literatura – uma literatura cheia de verdade, justo ela que é a casa da mentira.
Trecho do livro:
“Quando você aproximou docemente os lábios dos meus ouvidos, sabia que me faria um pedido, por isso me afastei, estava cansada dos seus pedidos. Você disfarçou, fingiu que não tinha percebido meu gesto e tentou se aproximar novamente.” (p. 119)
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