Alê | @alexandrejjr 06/01/2021
As linhas íntimas de uma amizade
Existiu um tempo no qual Porto Alegre era, fora do eixo Rio-São Paulo, um polo intelectual que felizmente esteve longe demais das capitais. Isso deu aos gaúchos, especificamente aos porto-alegrenses, uma certa independência de pensamento, algo que aconteceu (e ainda acontece por lá) também em muitos estados da região Nordeste do Brasil. Mas um escritor sempre esteve em destaque merecidamente: Erico Verissimo.
Em “Um certo Henrique Bertaso” os leitores são convidados para acompanhar as linhas íntimas de uma amizade. Erico, com a habilidade nata que tinha em contar histórias, relembra momentos ao lado do amigo de longa data que dá vida ao título de maneira contagiante, sempre despertando curiosidade e interesse. São pequenos causos da vida, como ele provavelmente diria.
Mas a questão é que são causos da vida de Erico. Portanto, há de se imaginar que não é pouca coisa. Em poucas páginas aprendemos sobre o funcionamento do mercado editorial brasileiro durante a primeira metade do século XX, sobre a arte de descobrir literatura - a boa e a ruim - e sobre a vontade comum de quem se permite sonhar. Desfilam, entre uma e outra história, nomes como Virginia Woolf, Aldous Huxley (um dos heróis literários de Erico), Thomas Mann e muitos outros que não cabem em apenas um parágrafo.
Livro pequeno em extensão que oferece grande prazer, “Um certo Henrique Bertaso” é uma ótima maneira de conhecer a versão mais humana de Erico.