Novelário de Donga Novais

Novelário de Donga Novais Autran Dourado




Resenhas - Novelário de Donga Novais


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O Garrancho 04/03/2023

A galinha sempre se ajeita no engradado.
Autran Dourado (1926-2012) é mais um daqueles fantásticos escritores brasileiros a serem redescobertos pelo público leitor. Dele, já tive o prazer de ler “A barca dos homens”, “O risco do bordado”, “Uma vida em segredo” e, agora, “Novelário de Donga Novais” – uma das obras que elegi para meu desafio dos 50 livros para ler antes dos 50 anos.

Seu Donga é um ancião muito sábio ao qual os moradores de Duas Pontes, cidadezinha das Minas Gerais, recorrem na expectativa de verem suas dúvidas e questões resolvidas. Conhecido por seus conselhos infalíveis, dados de forma proverbial, e respeitado por todos, o homem acumula uma legião de admiradores – sedentos por sua consideração.

Sua casa, nesse sentido, se configura para aquele povo uma espécie de Oráculo de Delfos, um templo de cuja janela Donga Novais contempla e interpreta o mundo.

Nas vizinhanças do velhinho e de Dona Mirtes, sua senhora, vive a filha de Seu Felisberto, a sedutora Lelena, dona de uma beleza estonteante e arrebatadora. De alma janeleira, a jovem será responsável pelo desatino de muitos homens, principalmente de Lalau, com quem acaba se casando.

Não pairam dúvidas. Não é caso de coincidência.

Lelena é a nossa mais bela versão de Helena de Troia; e Lalau, um rabisco de Menelau, o rei espartano.

Desde o começo da obra, já sabemos que Seu Donga não mais está entre nós; seus contemporâneos são aqueles que, saudosos, se ocupam em não deixar morrer o legado do velho amigo, detentor que foi de uma prodigiosa e inexplicável memória.

O que lemos, num texto repleto de humor na maior parte das vezes, trata-se de uma verdadeira ode que Autran compôs como forma de exaltar a sabedoria popular e a oralidade, os contadores de causos. E o fez, conforme nos entrega o narrador, porque “Tem sempre um materialista dos infernos pra atrapalhar a poesia da vida, reduzir a beleza das coisas, desfazer o mistério, a névoa luminosa que a gente vivia. Quanto mais mistério, quanto mais sublime, melhor”.

A linguagem que o autor emprega, com sintaxe e vocabulários característicos, é bálsamo aos amantes da nossa literatura e da língua portuguesa. Uma singeleza capaz de deleitar e de instruir quem não vê como ousadia ou atrevimento gostar de ler.

Como dizia Seu Donga, a “galinha sempre se ajeita no engradado”.

site: https://www.youtube.com/@OGarrancho
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