Sinopse:
Incansável contador de histórias e dono de uma memória prodigiosa, seu Donga Novais gosta de brincar com as palavras, assim como seu criador, Autran Dourado. E é com elas que arma e desarma as aventuras e desventuras de Duas Pontes, tendo-as como gancho para compensar uma insônia de muitos anos. O personagem principal não sai da janela e de lá controla a vida dos habitantes da cidadezinha mítica do interior de Minas Gerais, que já serviu de cenário para outros romances do autor. Mais que isso, ele vê bem além do presente, já que tudo nele é simultâneo. Conversa com os mortos com a mesma familiaridade que dialoga com seus vizinhos. Narra as conquistas da bela e faceira Lelena, por quem os homens da cidade — incluindo o próprio Donga — suspiram.
"Novelário de Donga Novais" é uma declaração de amor de Autran Dourado à linguagem, sua obsessão formal ao estilo, mas cuidando para que isso não se transforme em um obstáculo entre autor e leitor. Longe disso. O texto flui agradável como a prosa e os ditos do contador de histórias Donga Novais. São casos cheios de vida, amor e secretos desejos.
A galeria de personagens que desfilam pela janela de seu Donga é ontológica. Temos o Dr. Viriato, médico de fala cheia de erres e esses, sutil e metafórico; o nortista Ananias Desidério, causídico e casuísta; o Dr. Saturnino Bezerra, um advogado de "altas sabenças e vernáculo supimpa", autor do soneto A uma diva em botão (para Lelena, é claro); o professor Maldonado do Amaral, de autoridade e inteligência incontestáveis, figura sábia e latinista; o milionário Alexandre Campari, faminto de ouro e poder; o sapateiro Giuseppe Fuoco, anarquista, socialista, comunista e carbonário; Neca e Gérson, os jovens que se revezam nos favores da morena janeleira; o marido Lalau, com sua espingarda Hunt de três canos longos, pronto para vingar sua honra. E muitos outros. Todos ensandecidos pela brejeirice da principal personagem feminina.
Toda essa ‘gente’ revela, através de símbolos e imagens, o realismo simbólico de Autran Dourado, em que cada palavra é uma conquista. A presente narrativa é a representação mais perfeita dessa poética do romance, marca registrada do autor.