Kamyla.Maciel 07/05/2023
Desconfortável
Esse livro fala de um homem que completa 90 anos e quer se dá de presente uma noite com uma mulher virgem. E com ajuda de uma cafetina, ele passa a se encontrar com uma adolescente de 14 anos, uma menina pobre e que precisou se vender para sustentar a família.
Perceberam como é problemática essa história? Eu me senti extremamente desconfortável, demorei para fazer essa resenha porque fiquei me questionando qual a intenção de Gabo ao escrever isso, talvez denunciar um comportamento misógino dos homens que ?compram? as mulheres como coisas? Denunciar atitudes de uma sociedade que se utilizava de mulheres em situação de vulnerabilidade e pobreza? Não sei, não sei qual intenção, por admiração ao autor, optei por acreditar que tudo era uma grande crítica. Me recuso a acreditar que houve uma romantização de algo tão repugnante.
Falado isso, o livro é daqueles curtinhos que falam sobre tantas questões importantes. Traz a solidão da velhice de um homem que sempre pagou por mulheres, um personagem rançoso sabe e que sempre sexualizou as mulheres, objetificou. Traz o tema da morte também, da proximidade dela, do olhar para o passado. Sinto que há uma tentativa de ?arrependimento? por parte do personagem quando se depara com a finitude da vida sabe, mas não me convenceu, pois ranço instaurado Kkkkkkkkkk.
O personagem não gosta de mulheres, isso é fato. Ele usa mulheres, se aproveita das mulheres que estão em situação de miséria, mas não tem respeito/afeto por elas. É um homem bem difícil de se gostar, e que, naturalmente, pela vida que teve, teria uma velhice triste e solitária.
Tirando o problema da idade, ainda tem a questão que o personagem se apaixona por uma menina sem nem conhecer, sem nem conversar, sem saber o nome dela, o que só me mostra que ele é realmente um homem que só enxerga as mulheres sexualmente, como objeto de desejo, e não como um sujeito pra se conversar. Ele se apaixonou ali pelo que ele mesmo imaginava dela, criou na cabeça, pela fantasia que sua crise dos 90 anos inventou.
Enfim, é o livro de Gabo que menos gostei, por me deixar desconfortável, não sei se há uma outra forma de enxergar tudo isso. Mas ainda recomendo a leitura porque, como sempre, a escrita dele é diferenciada, traz uma nostalgia e genialidade que não há como não admirar.