Kath 09/01/2021
Sombrio e cativante
Guardem bem esse momento porque poucas vezes vocês me verão falar bem de um livro com final triste. (De qualquer coisa com final triste, na verdade) E apenas Zafón, esse mestre das palavras, seria capaz de me dobrar dessa maneira.
Numa noite sombria, um oficial britânico carrega dois bebês pelas ruas escuras de Calcutá rumo a casa de uma velha senhora. Essas crianças eram os netos dela, frutos do casamento de sua bela filha Kylian com um misterioso arquiteto. A mulher precisa tomar a difícil decisão de separar as crianças - gêmeos - para garantir, pelo menos por enquanto, sua sobrevivência. Assim, a menina fica com ela e o menino é deixado na porta do St. Patrick, um orfanato.
Dezesseis anos se passam e a ameaça do passado, que jurou aniquilar as crianças, retorna e não resta à velha senhora nada mais que fugir, mas antes ela deseja alertar o neto, por intermédio do diretor do orfanato, que deixe Calcutá o quanto antes. Enquanto essa conversa perdura, Sheere acaba conhecendo seu irmão, Ben, desconhecendo completamente o laço sanguíneo que os une, há uma espécie de atração inexplicável entre eles.
Ben então a convida para conhecer sua sociedade secreta, a Chowbar Society, formada por ele e mais seis amigos do orfanato que, atingindo os 16 anos, vão ser foçados a se separar. Então, aquela seria a última reunião da sociedade antes que fosse inevitavelmente desfeita. Sheere fica encantada, vivendo como nômade com a avó pelos últimos dezesseis anos ela não pôde ter amigos, o único que tinha vivia apenas na sua imaginação e era seu pai, pelo menos a idealização que ela tinha dele com base nos livros que ele escreveu e na descrição que sua avó fez dele.
Ela pede a eles ajuda para encontrar a casa que seu pai construiu para ela e a mãe, está localizada em algum lugar de Calcutá, mas ela não consegue encontrar. Os membros da sociedade demonstram um sincero interesse em ajudar, mas ela não contava que sua avó desejasse partir da cidade já no dia seguinte. Contudo, um misterioso incêndio no orfanato traz à tona um segredo do passado e a revelação do laço que une Ben e Sheere é feita pela avó de ambos.
Agora que conhecem a verdade - ou parte dela - a menina se recusa a sair de Calcutá até desvendar os pormenores do que aconteceu com seus pais. Junto ao irmão e seus seis amigos, eles partem em uma alucinante viagem que vai mudar suas vidas para sempre, se forem capazes de sobreviver a ela.
Não tenho o que dizer da prosa de Zafón, ele é um verdadeiro mestre das palavras e cada livro seu é um verdadeiro aulão de escrita criativa. Me vi mergulhada nas ruas sombrias e misteriosas da Calcutá de 1932 e seus complexos personagens, a prosa flerta com a fantasia transformando-se em um misterioso e obscuro conto de fadas moderno envolvendo a cultura hindu e seus deuses.
Como comecei a ler essa trilogia pelo fim (e já tem um tempão que li As Luzes de Setembro, preciso reler), decidi continuar de trás para frente e peguei o segundo volume para começar o ano. Infelizmente, a aventura dos meus recém adquiridos amigos tem um final bem agridoce, mas as reviravoltas feitas pelo seu criador e os segredos intricados - marca registrada dele - não deixam o prazer dessa aventura diminuir de nenhum modo.
Fiquei encantada e me via querendo constantemente saber o que encontraria na página seguinte, consolidei ainda mais meu amor por Zafón e sua prosa maravilhosa e envolvente. Quando terminei o livro, senti aquele amargor, um certo peso no coração, mas valeu a pena. Super indico para todos que gostam de uma boa fantasia sombria, cheia de plot twists, com personagens bem construídos e uma prosa poética que é um primor aos olhos.