joao 08/03/2024
Os Buendía e A Vida Como Ela É
Cem Anos de Solidão é, acima de tudo, uma obra difícil de se fazer resenha.
O leitor que se debruçar sobre a genialidade de Gabriel Garcia Marquez ficará aturdido pelas dezenas de Aurelianos e Josés Arcádios, personagens, que adentro as íntimas confidências da leitura, mais parecem pessoas, que embora de mesmo nome, possuem em si características únicas, anseios e sonhos miseráveis.
A riqueza de detalhes neste livro é de deixar absorto qualquer leitor, visto que a maior parte do livro são descrições de acontecimentos sobre a vida dos Buendía e sobre Macondo. Todas as descrições intrincadamente pensadas sobre Macondo nos trás um ar de familiaridade, esse lugar mágico e sobrenatural onde coisas absurdas acontecem frequentemente e mesmo assim nos parece totalmente natural ao decorrer do livro.
A tragédia imposta à estirpe dos Buendía é a mesma condição enfadonha a qual somos submetidos, a solidão. Este livro que conta a história de indivíduos diferentes lidando com a própria solidão é intimista, real, cru. Nesse retrato de médicos invisíveis, borboletas amarelas, maldições, feitiços, peixes de ouro, genocídios, guerras sem sentido, terras exóticas, o luxo, assim como a miséria; centenas de acontecimentos decorrem o tempo inteiro, sem parar, e o que levamos deles?
Seja no amor, na miséria, na riqueza ou na distração, a solidão sempre estará presente, de modo que até mesmo a solidão que compartilhamos com os outros culmina na solidão. Dito isso, a desenfreada marcha do tempo, como vemos aqui, declara o mais cruel dos destinos: o esquecimento, a solidão absoluta. Afinal, quem estará aqui para lembrar do que fizemos em cem, duzentos anos?
Ninguém.
Essa realização brutal requer não somente maturidade, mas aceitação, por conta disso, os cenários mais absurdos e fora da caixinha que acontecem nesse livro tomam proporções muito maiores, lhe fazem refletir, às vezes até mesmo chorar.
É uma honraria sem tamanho saber que um gigante da literatura viveu entre nós latinos, um verdadeiro ídolo digno de uma posição no Panteão. Creio que muitas pessoas sonhem em escrever ao menos 50% do que gabo escrevia, assim como eu.
Por outro lado, mesmo fadados ao esquecimento, possuímos a habilidade de tomar decisões melhores, esculpir o destino daqueles que virão depois de nós, deixar um legado positivo na terra.
Estirpes condenadas a cem anos de solidão não têm segundas chances,
afinal de contas, ninguém têm.
(Nota: 5/5)