Madu 31/12/2022
Uma perspectiva sobre Peter Pan
Esse era um livro que estava há muito tempo na minha estante aguardando para ser lido e a empolgação para iniciar essa aventura surgiu enquanto eu assistia a Paloma e o Marcos, um casal da novela Bom Sucesso, que sempre citavam e traziam referências a história do Peter Pan e a leitura se mostrou um grato passatempo.
A escrita de Barrie é bem agradável e passa a sensação de que você está deitado em sua cama ouvindo alguém contar-lhe as histórias do menino Pan e dos irmãos Darling e o fato de ser uma escrita de outra época não afeta realmente a experiência.
Outro ponto interessante sobre ela é que ao decorrer da leitura nos deparamos com a perspectiva de outros personagens, apresentando um pouco sobre eles e sua essência.
Quanto aos personagens, o livro nos apresenta primeiramente a mãe da Wendy, a sra. Darling e, como o próprio narrador a descreve, ela é uma mulher encantadora, aparentando ser inteligente, vivaz, ao mesmo tempo que paciente e devota aos seus filhos. O sr. Darling também parece ser uma boa pessoa que ama sua família e possui um lado divertido, entretanto ele se preocupa bastante com a opinião das outras pessoas e consequentemente com certas expectativas sociais, ele também não demonstra ser tão sagaz ou sonhador quanto sua esposa, que inclusive acredita nos comentários inciais das crianças sobre Peter.
Deixando ambos de lado temos os personagens que acompanhamos durante a maior parte da história: Wendy é a filha mais velha dos Darling e uma jovem doce, sonhadora e aventureira, que se encanta pela Terra do Nunca (especialmente pela perspectiva de conhecer as sereias) e pelo Peter, o qual não possui as mesmas prioridades que ela. Ele também possui um espírito aventureiro, mais do que Wendy, Pan é sonhador, possui uma lado nobre e ama ouvir histórias, entretanto crescer e assumir responsabilidades não fazem parte de seus desejos, por conta disso e por ser um eterna criança Peter é completamente imaturo, se esquece e perde o interesse nas coisas com facilidade e tende a ser arrogante e um tanto irritante em certos momentos, despertando em mim sentimentos contrastes, ora ele era honrado e adorável e ora era irritante e frustante.
Ambos me lembraram aqueles relacionamentos onde a mulher claramente deseja algo sério, imaginando um futuro ao lado do rapaz e insistindo nele, porque tem sentimentos e esperança que o mesmo a leve a sério, porém ele é um menino imaturo que pensa em si mesmo e não deseja responsabilidades, querendo mantê-la por perto do modo que o convém.
Eles obviamente não teriam um futuro.
Quanto aos irmãos da Wendy, o Miguel era o mais adorável e o João um tanto irritante com suas atitudes machistas e querendo ser dono de si, quanto aos meninos perdidos, cada qual tem sua personalidade, uns mais doces e tranquilos do que outros, porém todos ansiosos por ter uma mãe e todos eles apresentando, assim como Peter, os mesmos traços egoístas e imaturos que o autor apresenta como natural a infância.
De modo geral, a história é agradável de ler, os capítulos são curtos, a escrita flui de forma leve e as descrições fantasiosas são cativantes, sendo possível ler o livro rapidamente e refletir com o enredo, especialmente sobre o desejo de Peter de nunca crescer, o qual representa a ambição de muitas pessoas em nunca envelhecer e não precisar assumir certas responsabilidades, porém é possível observar que apesar dos aparentes benefícios Peter também abre mão de muitas coisas e pessoas e como a realização desse desejo não representa a ausência de sofrimento, mas a repetição das mesmas situações e erros em ciclos que são adoecedores.
Quanto ao final, nos deparamos com diversas perspectivas, podendo ver o que aconteceu com cada personagem, não sendo algo inconclusivo ou superficial.