May Furlan 11/12/2014
O Oliver de todos nós
Palavra do dia: ambíguo - que pode ter diferentes significados. Algo duvidoso, incerto, indeciso.
Se eu fosse Oliver Tate e devesse escolher uma palavra no dicionário para resumir minha relação com "Submarino" durante todo o processo de leitura, essa palavra seria "ambíguo". Na verdade, se eu fosse Oliver Tate procuraria uma palavra mais incomum para dizer a mesma coisa, mas, como não sou, me contento com essa.
"Submarino" foi um dos poucos livros que fugiu do meu processo "primeiro livro - depois filme". Topei com o filme (um daqueles bem indie, com direito a Alex Turner na trilha sonora - mas você provavelmente já sabe disso) durante uma fase em que estava consumindo tudo quanto era tipo de película indicada por amigos/conhecidos cujo o gosto eu tinha certo respeito. Ele era um dos favoritos de uma colega minha, com direito a menções no Facebook e capa de Twitter. Confesso que não gostei do filme o suficiente para o colocar na minha Calçada dos Melhores Filmes do Mundo e muito menos para procurar mais sobre, descobrindo que na verdade era uma adaptação. Achei tudo muito antipático, meio superficial, muito ar blasé em algo que deveria servir para criar algum tipo de identificação em quem estava assistindo. Pelo menos não funcionou tanto comigo, achei somente um filme legal.
Foi por acaso que descobri o livro por trás da adaptação, o que foi uma grata surpresa. Havia achado o tema interessante, e o filme foi quase lá para se tornar bom, então quem sabe o livro não seguia a regra de ser melhor do que o filme? Muito provavelmente lá estariam personagens mais trabalhados, menos caricatos, e entrar na mente de um deles sempre ajuda na aproximação, que é a chave do sucesso nesse tipo de história. E, sim, isso é exatamente o que acontece com "Submarino".
O livro é em primeira pessoa e vemos tudo através dos olhos de Oliver, um garoto no final dos seus 15 anos e com certas peculiaridades. Joe Dunthorne escreve de uma maneira gostosa, que te convence de que a história está sendo diretamente contada por Oliver para você. Uma coisa que amei na escrita foi a forma como autor não deixa em momento algum de descrever os outros personagens e suas emoções como se fosse Oliver, oferecendo suas interpretações nada comuns (e muitas vezes hilárias pelo absurdo), mas ao mesmo tempo dando informações para pessoas mais sensatas (nesse caso, os leitores - assim espero) terem como fazer uma avaliação real da situação. Ver as coisas pelo olhos desse menino posso afirmar que é um verdadeiro deleite. Além do mais, aqui temos resolvido o problema do filme, conseguimos nos aproximar de todos os personagens centrais da trama, tendo algum tipo de reação de acordo com o destino de cada um deles (seja ela positiva ou negativa).
Se gostei tanto do livro (a ponto de dar 4 estrelas) de onde veio essa história de ambiguidade? Bem, nem eu sei ao certo. Só sei que tive sentimentos conflitantes e precisei parar analisar o que achava do que tinha acabado de ler. "Submarino" conseguiu mexer com algumas emoções em mim, conseguiu me deixar em dúvida, alegre, triste, indiferente, surpresa, rebelde e apaixonada. "Submarino" conseguiu me mostrar, depois de tanto tempo, o que é ser um adolescente de 15 anos, começando a ter suas impressões mais profundas do mundo. Ele me lembrou a época em todos somos ambíguos e que nossa análise do que nos cerca daria um bom livro. Nossa mente é um lugar incrível. Oliver é o que todos nós já fomos e muitas vezes nos esquecemos ou não queremos admitir.
Não dei nota máxima ao livro somente por achar algumas passagens desnecessárias. Certas coisas me causaram um leve incomodo enquanto estava lendo, pensando que dava para ter passado bem sem essa, principalmente algumas partes sobre a vida sexual de Oliver. Posso dizer que não daria esse livro para um filho meu de 15 anos ler. Acho que seria uma mãe super protetora.
De qualquer forma, "Submarino" é muito bom, com pegadas inteligentes que nos fazem querer contar na hora para os outros a genialidade tão simples que encontramos ali (mas que ninguém apreciaria de verdade se não estivesse lendo também). Um livro que nos lembra a adolescência e como é incrível a história que se passa em nossas cabeças, a forma como encaramos as coisas. No final das contas, todos temos um pouco de Oliver Tate dentro de si.