Julia G 02/05/2012Uma Manhã Gloriosa - Diana Peterfreund Resenha publicada originalmente no blog http://conjuntodaobra.blogspot.com
"- Faz alguma ideia da sorte que tem por estar aqui? - Minha voz subiu uma oitava. - Da sorte que todos nós temos com esses empregos? Da rapidez com que tudo pode ser eliminado?
Duvidei que ele se importasse com isso. Afinal, seu contrato continuaria muito tempo depois de o Daybreak baixar em seu caixão.
Percebi ligeiramente que todos no estúdio estavam me olhando, mas eu já havia passado há muito de preocupações insignificantes com dignidade.
- Humm, vamos voltar em 30 - disse Pete.
[...]
- Esse era para ser o emprego dos meus sonhos - eu berrei com Mike. - A vida dos meus sonhos! Trabalhar num programa de rede de TV em Nova York. [...] E tem um cara... um cara ótimo, que na verdade é meio gato... e ele me suporta por tempo suficiente para transar comigo. [...] E em vez disso - eu disse, ou melhor, gritei - está tudo uma zona. Por sua causa." (pág. 184)
Trabalhando na produção de um programa matinal local de New Jersey, Becky Fuller se esforça mais do que o necessário para fazer tudo funcionar. Sua rotina é milimetricamente programada, qualquer encontro que ela possa ter precisa acontecer antes das 18h, já que os horários de programas matinais não facilitam sua vida e precisa estar sempre disponível em seu Blackberry, que toca a cada três segundos. Mas quando achava estar preparada para galgar um degrau de sua história profissional dentro da empresa, ela é demitida. Demitida pois o programa precisava de alguém mais "especializado", e só havia orçamento para manter uma pessoa, que não era ela.
Desesperada, já que todos os lugares onde pretendia se candidatar esperavam alguém com uma graduação concluída, Becky se vê totalmente sem alternativas, até que recebe um telefonema da IBS, que buscava um novo produtor para o Daybreak. O detalhe era que o programa tinha a pior audiência da televisão, uma equipe descompromissada e desmotivada e, o que ela veio a saber depois de aceitar a proposta: estava prestes a ser cancelado. Se isso acontecesse, qualquer oportunidade que Becky um dia sonhava ter nas produções matinais estaria exterminada. Ela precisava então correr contra o tempo e transformar o Daybreak em um programa respeitável.
Diferente da maioria dos livros que inspiram adaptações cinematográficas, Uma Manhã Gloriosa, de Diana Peterfreud foi escrito com base no roteiro do filme de mesmo nome, de 2010. Nesse post, ano passado, comentei brevemente minhas impressões sobre o filme, e resolvi ler o livro exatamente por causa da boa impressão que tive.
Durante a leitura, me dei conta de um detalhe um tanto quanto interessante: quando lemos livros e assistimos a adaptações, dificilmente gostamos das mudanças que são feitas no enredo. Mas, nesse caso, por ter sido criado a partir do procedimento inverso, o livro não possui mudança alguma em relação ao filme, que foi o que mais me desagradou, pois era como se eu estivesse vendo tudo novamente.
Narrado em primeira pessoa pela própria Becky Fuller, o livro mostra o esforço da personagem, maluca, os pensamentos neuróticos dela, e dá uma ênfase um pouco maior ao romance, o que no filme foi quase impercepitível. Essa ênfase talvez se dê exatamente pelo tipo de narração, já que é possível acompanhar os pensamentos e sentimentos de Becky. Adam, par romântico de Becky, entretanto, ainda ficou como uma incógnita para mim. Ele pouco aparecia, soltava uma ou outra frase inteligente e sarcástica, era um fofo, mas não senti que o conhecia durante a leitura. Infelizmente, acabou quase dispensável da trama.
Collen, a apresentadora, é tão divertida quanto no filme, mas as cenas deste, que demonstravam rapidamente as mudanças que ocorriam na produção, foram mostradas de maneira superficial no livro, o que tirou um pouco do brilho da história. Da mesma forma aconteceu com Mike, que mantinha o tipo resmungão por esperar fazer jornalismo de verdade, e não um programa de variedades, mas que, no livro, não tinha o brilho dado pela interpretação de Harrison Ford. Os outros personagens foram apenas citados no livro, o que me impediu de visualizar suas funções na história, diferente do que ocorria no filme. Apesar disso, o livro consegue transmitir a mesma graça, a mesma leveza, e me arrancou algumas boas risadas.
Quero pedir desculpas por não fazer uma resenha de verdade, já que foi mais uma comparação livro x filme, mas tudo que me passava enquanto eu lia o livro era como tais cenas haviam sido mostradas na versão cinematográfica - o que seria impossível não fazer quando ambos são tão pouco diferentes. Recomendo essa leitura para aqueles que não assistiram o filme, que querem uma história divertida e leve para descontrair.