Israel145
06/11/2016WATCHMEN – 30 ANOS DEPOISLançada em 2009 pela Panini, Watchmen – Edição definitiva traz mais uma reimpressão da inovadora graphic novel que abalou o status quo das hqs de super heróis nos anos 1980.
Originalmente lançada entre setembro de 1986 e agosto de 1987 em forma de mini-série em 12 edições, realizei uma releitura do clássico (a terceira) e pelo menos na minha humilde opinião pude constatar mais uma vez quão inovadora e moderna é essa história. Um clássico impecável. É como ouvir um disco dos Beatles: sempre há sensações e descobertas que não estavam lá da última vez.
Alan Moore e Dave Gibbons aliaram sua genialidade para conceber uma das obras definitivas da 9ª arte. Para entender um pouco da revolução artística impetrada pela dupla Moore e Gibbons é importante voltar no tempo e entender o que eram os quadrinhos de super-herói até então. Não havia ainda o selo Vertigo, a mídia focava em histórias hiper coloridas, fantasiosas onde mensalmente um ou vários caras superpoderosos venciam o vilão do mês que perpetrava uma hecatombe mundial. Era derrotado, o bem vencia o mal, e tudo voltava ao normal até o mês seguinte. Nesse loop contínuo, as hqs de heróis pouco evoluíram desde o surgimento dos seus ícones nos anos 1930/1940. Em Watchmen, Alan Moore mostra um mundo em que tudo é relativo. A “visão” preto-e-branco sumiu, surgindo tonalidades variadas amparadas em temas mais profundos, tais como, a quem cabe julgar o que é certo e o que é errado? Os fins justificam os meios? O que é o bem individual perto do bem coletivo? São questões assim que formam a espinha dorsal de Watchmen.
Os “heróis” são tão defeituosos como os humanos. O vigilante psicótico Rorschach que cruzou há muito a linha sem volta da loucura e mata sem piedade. Coruja e Espectral que só conseguem se excitar quando vestem seus uniformes. Dr. Manhattan que se tornou algo mais que humano e sua superioridade o transforma numa ameaça contra a humanidade. Todas as facetas dos demais são expostas por Moore pela perspectiva da sua humanização.
Além do roteiro inteligente e adulto, Moore e Gibbons se sentiram confortáveis em brincar com muita metalinguagem, easter-eggs e mensagens subliminares que permeiam a obra e mesmo com uma leitura atenta, fica impossível catalogar e conectar as inúmeras referências colocadas em Watchmen.
A história dentro da história (ex.: contos do cargueiro negro) se desenrola paralela à trama de Watchmen e de certa maneira a complementa de um jeito torto e bizarro. Diversas histórias se conectam e cada detalhe aparentemente isolado e sem importância na trama converge para um final brilhantemente orquestrado.
Detalhes irrelevantes como as capas serem sempre iguais ao 1º quadro da história traçam impactantes motes para o desenvolvimento da história. O Relógio em contagem regressiva até as 12:00hs no fim de cada edição, as pichações (casal se abraçando) e sua relação com o casal Coruja e Espectral mostrado na parte 12, a arte perdida igual ao alienígena desenvolvido pelo “vilão” da história, enfim, as nuances nessa obra chegam a ser inúmeras e talvez cause uma percepção diferente em cada leitor e a cada leitura.
Watchmen depois de 30 anos continua a ser inovador e merece sempre releituras atentas e edições cada vez mais caprichadas. Sua importância na 9ª arte é inquestionável. Talvez as gerações futuras por não entenderem o papel de divisor de águas da graphic novel e pelo seu contato com a hq moderna não lhe deêm o merecido respeito e a considerem só mais uma hq de super-heróis. Mas dentro do seu contexto histórico tudo em Watchmen é revolucionário. Assim como nos discos dos Beatles, em Watchmen a magia nunca acaba.