HULK AGIOTAAA 21/03/2023
As identidades do poeta
O marinheiro certamente é um livro não muito falado que corresponderia a uma certa periferia na obra de Fernando Pessoa. Eu mesmo desconhecia o livro até o presente momento. A peça, no entanto, publicado na revista Orpheu, é muito mais do que uma simples inovação moderna, mas corresponde a toda uma revolução no que tange aos aspectos relativos a ortônimos e heterônimos. Nela, vê-se um sorriso que a água reflete, mas que não é o seu sorriso, mas outro sorriso, o marinheiro de um sonho, ou seria o sonho de um marinheiro, uma entidade que se apresenta acima de todos. Mais do que isso, um enxame de vozes únicas e singulares, mais do que criações, personalidades completas, que, sobrepondo-se ao aspecto de criatura, emergem para o aspecto de criador. A irmã veladora que cria o marinheiro, que cria sua pátria ideal e imaginária, não seria isso uma demonstração de heteronomia? O marinheiro certamente faz ecoar vozes como Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis, antes porém, de sua criação, mas remetem reiteradamente a esse caráter singular, multifacetado, como diria Drummond: "presentifuturo no céu de Lisboa" que corresponderia a esse enigma chamado Fernando Pessoa.