Lets Aquino 13/05/2024
Uma desconstrução para se descobrir.
Conforme conhecemos Clarice, percebemos algo em comum em seus livros, que é a dissecação sobre o ser humano, suas complexidades existênciais, acho que, não fosse uma ótima escritora, poderia bem ter sido uma psicanalista, pois todos seus livros nos faz adentrar no mais íntimo e obscuro de nossa inconsciência.
Neste livro não temos uma mulher, mas sim um homem, Martim, como personagem principal, e aqui acompanhamos sua jornada de amadurecimento ou reconhecimento ou reconstrução de si próprio; a princípio sabemos que ele está fugindo, mas não sabemos o motivo, como Clarice geralmente não trabalha com o que é moral, não temos como julgar o personagem ou afirmar que ele seja bandido ou heroi, mas ao decorrer da narrativa percebemos um homem que abdicou de tudo para se tornar um simples trabalhador rural e que descobre o prazer em seu trabalho manual, na vida simples, na natureza como se tudo fosse uma novidade que ele parou para observar somente a partir dessa fuga, como um renascimento, uma maneira virginal de perceber tudo ao seu redor como a primeira vez.
Depois nos adentramos na vida de Ermelinda e Vitória, as mulheres donas e moradoras da fazenda em que Martim passa a viver em troca de seus trabalhos. Ambas mulheres são opostas uma da outra, trazendo a racionalidade e distanciamento de uma versus a doçura e inocência de outra e, conforme o desenrolar da trama, cada uma compõe sua história dentro da história, suas próprias narrativas e formas de ver o mundo, de estar no mundo e de como ambas se conectam com Martim a partir daí.
Acho redundante elogiar Clarice mas, o livro é surpreendente, não temos como esperar pelo que vem a seguir, é simples e complexo ao mesmo tempo, é difícil ser objetiva para resenhar Clarice, principalmente um livro que tem tanto a dizer mas, faltam palavras. Novamente digo que todos deveriam ler e, este especificamente me deu uma sensação de redenção, de amadurecimento, de olhar o mundo ao redor de uma forma diferente.