lucyinmars 12/09/2011Razão e Sensibilidade e Monstros MarinhosJulgando o livro pela capa, imaginei que seria uma leitura cheia de aventuras do começo ao fim, um romance proibido, uma guerra mentalmente formada sobre o que era certo e o que dizia-se errado. Grande engano. Não que eu tenha me decepcionado completamente com o livro, mas particularmente ele pouco me emocionou.
Nas primeiras páginas, quando o Sr. John Dashwood foi atacado por um tubarão-martelo e as irmãs Marianne, Elinor e Margaret são expulsas da casa onde viveram toda sua infância, juntamente com a mãe, e se deslocaram para uma pequena ilha isolada de qualquer civilização, esperei que a falta de emoção na narração da história fosse apenas porque o livro estava no começo, e os autores, criando essas pequenas intrigas, pretendiam apenas nos apresentar os principais personagens do romance.
Seguindo a leitura, curiosa apenas para descobrir qual era a relação que o homem com a face coberta por tentáculos tinha com uma das irmãs Dashwood, já que na capa eles se encontram abraçados, embora com uma expressão de dor e pouca felicidade para um casal, continuei avidamente a passar pelas páginas, dia após dia, e parecia tudo tão monótono: as moças passavam seu tempo lendo e caminhando à beira mar, jantando com os únicos vizinhos que possuíam e explorando a ilha, que era tão pequena a ponto de ser atravessada em uma única tarde. O homem dos tentáculos finalmente apareceu na história, era um vizinho distante e solitário, tratado como Coronel Brandon. Seus sentimentos e suas intenções quase não nos foram expostas no livro, e, sendo assim, mesmo que tenha se interessado por alguma das moças desde o momento em que se conheceram, fica difícil dizer com certeza algo a seu respeito. Para mim sua recepção foi fria e suas palavras as de um homem amargurado, e sua presença foi deixada de lado logo nas páginas que se seguiram.
Apareceram namoricos daqui, dores de saudade dali, mas nada foi aprofundado. Ataques de monstros do mar surgiam conforme a leitura avançava, mas nenhum deles pareceu ter alguma relação com os acontecimentos futuros. Somente o delírio de Margaret, a irmã mais nova, foi uma das poucas razões que me intrigaram e me fizeram seguir adiante. Imaginei que alguma força diabólica a movia, e que isso desencadearia muitos conflitos, medo, perdas, mas mais uma vez me decepcionei quando percebi que a pequena Dashwood foi ignorada em suas dores para dar lugar somente e o tempo todo as cólicas de amor intermináveis de suas duas irmãs mais velhas.
As duas moças foram com a Sra. Jennings, uma velha e simpática senhora que morava juntamente com seus vizinhos mais próximos, passar algumas semanas na tão famosa Estação Submarina Beta, uma cidade submersa nas profundezas do oceano cujo teto era uma cúpula de vidro rodeada de vida marinha e peixinhos furiosos que insistiam em quebrá-la. Poucas de suas belezas foram descritas, a atenção foi desviada somente para as cartas de amor de Marianne para sua antiga paixão, que a abandonou sem dar nenhuma explicação. No momento em que se encontraram, porém, a dor de vê-lo com outra mulher ao seu lado misturou-se com o desespero do ataque de lagostas gigantes e tudo virou uma confusão enorme. A saída das senhoritas Dashwood da Estação Submarina Beta foi antecipada por mais um ataque de seres marinhos, que quebraram a cúpula de vidro da Estação e devoravam dezenas de seus habitantes conforme a água invadia o local.
Marianne, que sempre foi fascinada por piratas e suas aventuras, teve então a oportunidade de conhecê-los em seu ofício, quando resgatada da inundação da Estação Submarina Beta e levada para a casa do Sr. Palmer, amigo da família, que ficava em pleno território do mais temido dos piratas: Barba Trançada. Sua decepção foi evidente.
Na casa flutuante dos Palmer, totalmente consumida pelo tédio, resolve explorar os arredores do local. Foi seu grande erro: Marianne é picada por centenas de mosquitos e contrai malária. Passa semanas no fundo de uma cama, enquanto o casal Palmer volta para sua principal residência, bem longe dali, e o pobre Coronel Brandon vai buscar sua mãe a nado, distante a milhares de braçadas das senhoritas Dashwood. Neste ponto Marianne afirma mais tarde ter sido uma grande oportunidade de reflexão para si própria, mas nada nos é apresentado além da eterna dor e piedade de sua irmã, Elinor, que sofre durante todo o livro por sua querida Marianne.
Sabendo do estado de saúde da moça, seu antigo amor resolve ir até o seu encontro e prestar as explicações que a tanto tempo devia por sua brusca partida. Atormenta o espírito da já impaciente Elinor, dizendo que foi tudo por dinheiro, e que agora estava casado com uma bela e afortunada moça, porém não era feliz e o arrependimento cortava seu coração. Mais uma vez Elinor sofre pela irmã, e, mesmo estando em estado de alerta pela aproximação do horripilante pirata Barba Trançada, ouviu cada sílaba do que o ex-cunhado disse. Inúteis armadilhas foram montadas pelos dois, sendo que somente quando Elinor viu o tal pirata em sua frente é que percebeu o real tamanho do problema. Mais uma descrição sem emoção alguma nos é presenteada, e o tão medonho pirata nos é transformado em um velho cabeludo que nada além de "rá!" sabia fazer. É óbvio que ele foi derrotado pela mocinha, com algumas balas de canhão e um polvo gigante, e também pelo Coronel Brandon, que chegou de surpresa e cortou-lhe a cabeça.
Assim, retornaram para a querida Ilha Pestilenta, e muitas revelações foram feitas. A visita do antigo amor de Marianne à casa do Sr. Palmer, suas agonias, seus motivos foram apresentados. Finalmente a moça se conformou com o fim do namoro. Mas, e a irmã mais nova, onde estava? Ao ouvir esta pergunta, a sra. Dashwood estremeceu. Margaret havia fugido para o interior da ilha, completamente alucinada e dizendo palavras sem sentido algum. O chão se moveu..uma, duas vezes. Ouviu-se a voz da pequena Margaret do lado de fora da casa, entoando cântigos diabólicos em coro com coisas que pareciam ser duendes. A casa foi arremessada ao mar e então, finalmente, a ilha se revelhou ser a cabeça de um enorme monstro marinho, que agora acordava furioso e faminto. Todos agitaram seus braços e pernas, Elinor ao lado de Edward Ferrars, seu namorico do começo do livro que havia sido deixado para trás quando foram expulsas de casa. Todos a salvo na embarcação dos felizes piratas que tanto decepcionaram Marianne e seu ideal de pirataria, nada tinham a dizer sobre o Leviatã que havia despertado, como tão bem o Sr. Palmer sabia, pois essa era a profecia para o fim do mundo. Elinor casou-se com Edward, Marianne igualmente com o Coronel Brandon, mas, assim como na capa do livro, os dois realmente não pareciam estar felizes com essa união! Tão pouco foi descrito os sentimentos do casal, pois todo o meu último parágrafo é um resumo dos três últimos capítulos do livro, e o tão esperado final feliz aconteceu de forma tão rápida e simples que toda a leitura pareceu perder a graça! Embora muito bem escrito, muito bem ilustrado, a história em si não teve acontecimentos que prendem o leitor, tanto é verdade que abandonei o livro na gaveta mais de uma vez pelo tanto desinteressante que me pareceu o desenrolar de sua história. A ideia inicial é boa, mas faltou detalhes, faltou foco. O livro tem uma escrita fácil de compreender, mas como que os autores querem que entendamos algo que eles nem sequer expressam? Se queriam nos passar algo sobre a Inglaterra do período regencial, como a orelha do livro nos indica, posso dizer que poucos relatos sobre isso encontrei em minha leitura. Um final feliz tão previsível como em qualquer livro infantil. Decepcionante. Há quem diga que a culpa disso está em Ben Winters, que resolveu alterar algumas (muitas) linhas da trama de Jane Austen, introduzindo pitadas de humor aqui e ali. Vou procurar ler os originais da autora, para assim talvez mudar alguns julgamentos feitos aqui. Vamos aguardar!