Fabricio.Macedo 04/05/2021
Caninos Brancos (Jack London, 1906) conta a história de um cão selvagem. Um lobo domesticado pela civilização. A idéia é bem própria dos humanos. Não falo da domesticação dos animais e sim do quanto os processos de educação nós domesticam, levando-nos a obediência, gerando crises internas, existenciais. Em Caninos Brancos, o instinto e a lei exigem obediência, enquanto o crescimento, a desobediência. E é assim mesmo com a gente em tempos de infância. Crescimento é vida e vida é luz. Assim, medo e obediência foram engolidos pela corrente da vida. O medo, mal que herdamos culturalmente, foi superado pelo crescimento que tornou a forma de curiosidade. Impossível não ver nuances do desenvolvimento transgressor e infantil ao ler Caninos Brancos.
Caninos Brancos nos ensina a tomar cuidado com o que tem vida. Delas, vem o inesperado. Devemos estar preparados para tudo. Sempre esperando tudo de todos como se não quisessemos sofrer a tristeza da decepção. Para este cão meio lobo, "as coisas nem sempre são o que parecem". Vale aprender com esse cão: desconfie sempre das capas, das aparências; o desconhecido pode se manifestar de formas inimagináveis. A vida não nos oferece a capa da proteção contra os que se passam por "deuses" e "poderosos". No entanto, em algum momento do existir alcançaríamos o nível de "preparados para tudo"?
Caninos Brancos foi levando sua vida sob cautela. Embora curioso a descobri-la. A herança do medo era sua essência. Mas era justamente essa tensão provocada pelo crescimento que o movia a ir, a aprender, a fazer, a experimentar, a viver. A viver em certa dependência dos outros. "(...) é sempre mais fácil contar com os outros do que se arranjar sozinho." Contar com os outros me remete a fidelidade, sentimento dos parceiros da vida. Caninos Brancos era um cão fiel. Assim o foi com o seu dono.
Caninos Brancos vivia o sonho da liberdade. Este era um imperativo para ele. Era preciso sentidos aguçados para avançar sobre a corredeira da vida, para impor-se aos desafios. Vivia em discrição. Não exibia seus sentimentos. Mais um efeito pelo qual passam todos os (caninos) domesticados. Caninos Brancos era um cão amoroso. "Ele amava com exclusividade e se recusava a se baratear ou a baratear o seu amor."
Como Caninos Brancos, sigamos em inteligência o caminho da luz, da Vida.