Déia 08/12/2014
Uma obra breve, porém repleta de interessantes ideias e reflexões. Fala sobre a velocidade dos tempos modernos, como esta afeta nossa memória e acaba atrapalhando a fruição. Fala sobre a necessidade que sentimos de sermos observados, alguns se tornam verdadeiros “dançarinos” na busca da glória e reconhecimento, alguns imaginam serem “eleitos”.
O desfecho do enredo é simplesmente genial!
“Em nosso mundo, a ociosidade transformou-se em desocupação, o que é uma coisa inteiramente diferente; o desocupado fica frustrado, se aborrece, está constantemente à procura do movimento que lhe falta.”
“Ser eleito é uma noção teológica que quer dizer: sem mérito nenhum, por um veredicto sobrenatural, por uma vontade livre, senão caprichosa, de Deus, se é escolhido para alguma coisa de excepcional e de extraordinário. Com essa convicção, os santos encontraram a força para suportar os mais atrozes suplícios. As noções teológicas refletem-se, assim como suas próprias paródias, na trivialidade de nossas vidas; cada um de nós sofre (mais ou menos) da insignificância de sua vida muito comum e deseja escapar dela e elevar-se. Cada um de nós conheceu a ilusão (mais ou menos forte) de ser digno dessa elevação, de ser predestinado e escolhido por ela.”
“Há um vínculo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento”.
“Nada mais? Coisa alguma? Nada? Numa súbita iluminação todo o seu passado aparece-lhe, não como uma aventura sublime, rica em acontecimentos dramáticos e sublimes, mas como a parte minúscula de uma barafunda de acontecimentos confusos que atravessaram o planeta em tamanha velocidade que é impossível distinguir seus traços, a tal ponto que talvez Berck tenha razão de tomá-lo por um húngaro ou um polonês, porque quem sabe se ele não é mesmo húngaro ou polonês, talvez turco, russo ou até mesmo uma criança agonizante na Somália?”