Fernanda631 21/01/2023
Muito Barulho Por Nada - William Shakespeare
Muito Barulho Por Nada foi escrito por William Shakespeare com data da primeira publicação em 1600.
A grande maioria das peças tem uma riqueza não apenas literária, mas filosófica, psicanalítica e política. Shakespeare foi, sem dúvida alguma, ao lado de Miguel de Cervantes, o maior poeta da literatura mundial.
A peça continua atual, expondo de maneira prodigiosa as palavras do bardo.
Muito Barulho por Nada é uma comédia brilhante sobre amor, engano, e claro, sendo da autoria de quem é, sobre a natureza humana. Existem duas histórias principais, a de Hero e Claudio e a de Beatrice e Benedito.
O tema é o mesmo e é transversal a toda a obra: o amor. E que novidade é essa, podem perguntar à vontade. Bem, a questão é a forma como o tema é abordado. Hero e Claudio estão apaixonados, ótimo ate então é normal, vão casar sonho de todos os enamorados, mas há uma tentativa de impedir o casamento, etc.
A novidade está em Beatrice e Benedick. Nenhum dos dois quer casar, nenhum dos dois acredita no amor, e nenhum dos dois suporta o outro. Esse é o principal motivo de comédia na obra. Através de um esquema, Beatrice e Benedito são levados a crer que o outro está apaixonado por si e, a partir daí, a comédia reside mais no fato de, afinal, eles não se conhecerem assim tão bem a si mesmos.
Em Muito barulho por nada o leitor encontra a cidade italiana de Messina envolta nas confusões amorosas apresentadas aos poucos. Logo no começo da história, Cláudio e Hero se tornam noivos e estão felizes, esperando pelo casamento que ocorrerá dentro de uma semana. Durante este tempo, com o intuito de se divertirem, Claudio e Dom João, príncipe de Aragão, armam um enlace para unir Beatriz e Benedito, ambos defensores da idéia que nunca irão se casar, além do fato de viverem a disparar ofensas um contra o outro.
Neste contexto, surge ainda a figura de Dom João planejando sabotar o grande casamento da história, pois está enciumado da relação do irmão, Dom Pedro, e Cláudio.
Shakespeare constrói suas peças através de diálogos dignos de uma história que se propõe a entreter. Sim, mas saiba leitor que o escritor inglês escrevia com o intuito de propiciar uma experiência que envolvesse o seu expectador. Isto nos ensina pelo menos uma coisa: “não é por que determinado tipo de literatura tem a proposta de entreter, que ela é menor”. Outro detalhe que acaba por nos deixar um ensinamento, é que não podemos julgar quais livros que lemos de autores atuais que se tornarão clássicos.
Eu adorei esta obra, como todas de Shakespeare. E quando adoramos muito uma coisa torna-se muito difícil explicar o porquê. Era muito fácil dizer que tem a ver com a história romântica e com a relação amor/ódio dos protagonistas, ninguém ia achar estranho. Mas estou convencida de que é mais do que isso. Até porque, quando se fala de romance nas obras de Shakespeare, prefiro as histórias trágicas do bardo.
O que eu gostei mesmo muito foi da facilidade com que as nossas opiniões mudam em função do nosso ego, em como somos facilmente enganados não só pelos outros, mas por nós mesmos, em como somos tudo menos constantes e fiéis, a nós e aos outros. Tudo o que está relacionado conosco e com a nossa natureza é tênue e frágil, não lhes parece? E as coisas e as pessoas nunca são as mesmas dois dias seguidos. Então porque é que nos damos a tantos trabalhos para dizermos uma coisa que, se já não acreditamos nela amanhã, foi porque nunca acreditamos de todo ou de verdade?
Acho que foi por isto que gostei tanto da peça e é por isto que gosto tanto de Shakespeare. Afinal, em que outra ocasião ou através de que outro método é que refletiria acerca disto? Da certeza que me passava pela cabeça, como já havia passado antes, mas não deste modo e, além disso, não de uma forma cômica.
Achei legal foi Shakespeare ter criado o que hoje conhecemos como “quem briga se ama” ou romance “cão e gato”, já que em meio a trama temos dois personagens que tentam auto sabotar seus próprios sentimentos. E me peguei lendo algo que cansamos de ver pelos corredores do colégio: puxões de cabelo e tapas no ombro no corredor e beijinhos atrás da escola, quem nunca viu isso, seja na vida real ou na ficção: em filmes, séries ou etc.
Claramente que a história vai muito, além disso, ela mostra as consequências que uma mentira pode causar, principalmente em tempos onde se valorizava muito um sobrenome sem vergonhas atreladas a ele.
Também retrata muito a solidariedade dos sexos, onde uma mentira é contada sobre Hero, mas Beatriz colocaria suas mãos no fogo se precisasse para provar que a prima era inocente, enquanto Cláudio, o Príncipe e até mesmo o pai de Hero, voltaram-se contra a moça, preferindo acreditar nas histórias que um sujeito contara, só porque ele era um homem e, ainda por cima, da realeza! Mas, também um lado bastante interessante, é Benedito ter ficado ao lado de Hero e acreditado na moça, por amor à Beatriz.
Um detalhe muito importante de ser percebido, é que em uma época machista, os homens dessa história sabem reconhecer os seus erros e colocar a bondade acima de seu próprio orgulho, tentando redimir-se.
Para concluir, é uma excelente dica de leitura, e que mesmo muitos amantes da obra de Shakespeare, ainda não leram.