Polly 11/02/2021
A cada dia me convenço mais que os encontros na vida acontecem quando têm de acontecer. Não é diferente com os livros. Um amigo me passou esse livro há cerca de 10 anos. Li algumas páginas, não me prendeu. Abandonei. Uma década depois, cá estou formada e trilhando o caminho da ciência. Ainda na graduação, cruzei com as células HeLa. No mestrado, trabalhei com cultura de células. E, nos últimos dias, me (re)encontrei com “A vida imortal de Henrietta lacks”.
As células HeLa foram as primeiras células humanas imortalizadas em cultivo laboratorial, no ano de 1951. Graças a essas células, a humanidade testemunhou os maiores avanços nas pesquisas médicas até então - pesquisas oncológicas e espaciais, vacina contra pólio e HPV, mapeamento genético. Somente no Pubmed, são mais de 114 mil artigos encontrados envolvendo as células HeLa.
Incrível, não?! E se eu te disser que por trás das células HeLa está Henrietta Lacks, mulher pobre e negra, que morreu aos 31 anos vítima de um tipo muito agressivo de câncer do colo do útero, e que teve uma amostra do seu tecido uterino retirada do seu corpo sem o seu conhecimento e consentimento? Tampouco sua família foi informada. Além disso, suas células deram origem a uma indústria multimilionária sem que sua família recebesse um único tostão.
A história de Henrietta, apesar de ser também a história das células HeLa, permaneceu apagada por muitos anos. E, a partir dela, surgiram diversos debates éticos e morais, muitos deles ainda sem um consenso. Ler esse livro em 2021 é ter em mente o tempo todo que o pensamento daquela época era totalmente diferente. Acreditem! Por mais que não pareça, estamos muito melhores agora.
Hoje, 11/02, é Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. Sei que a família Lacks não busca nada além do reconhecimento de quem foi Henrietta. Deixo aqui a minha homenagem a essa mulher que mesmo sabendo tão pouco - ou quase nada - mudou profundamente a pesquisa médica nas últimas décadas e, consequentemente, a vida de cada um de nós.