spoiler visualizarLenSa 27/07/2023
Sem dúvidas, esse foi o livro mais difícil de terminar. Ele faz muitos rodeios desnecessários. Com certeza, o autor teve muito trabalho de pesquisa para escrevê-lo.
Eu não gostei, mas entendo o fato dele ser um clássico.
"Ah, clareiras verdejantes! Ah, paisagens infinitas sempre primaveris na alma; em vocês ? embora há muito ressecados pela seca mortal da vida terrena ?, em vocês, os homens podem ainda correr, como jovens cavalos sobre os frescos trevos matinais; e, por alguns momentos fugazes, sentir em si o frio orvalho da vida imortal. Oxalá essas abençoadas calmarias durassem. Mas os fios da vida, já mesclados e ainda se mesclando, são tecidos segundo a tessitura e a trama: calmarias cruzam-se com tempestade, uma tempestade para cada calmaria. Não há progresso constante e sem retrocesso nesta vida; não avançamos por meio de gradações fixas, e, quando chega a última, paramos: ? passando pelo feitiço inconsciente da primeira infância, pela fé impensada da meninice, pela dúvida da adolescência (o destino comum a todos), depois pelo ceticismo, mais tarde pela descrença, repousando por fim no ponderado Se da vida adulta. Ao chegarmos lá, porém, passamos por tudo mais uma vez; e somos bebês, crianças, adultos e Ses eternamente. Onde fica o porto final, e onde não mais levantamos ferro? Em que éter de êxtase navega o mundo, do qual nem os mais exaustos um dia se cansarão? Onde estará escondido o pai do enjeitado? Nossas almas são como aqueles órfãos cujas mães solteiras morrem no parto: o segredo de nossa paternidade jaz em seus túmulos, e lá devemos descobri-lo."
"Mas ao carregar sua história de uma linguagem e de uma série de efeitos novos, calcados na oratória religiosa, no teatro inglês e grego, na ensaística, na filosofia e, por que não, na teologia, ele o tempo todo sublinha a necessidade de reconhecer que por trás de tudo isso há algo mais. Há muito mais. Mas que esse significado maior só pode existir porque se trata apenas e exatamente das coisas que estão ali. Elas são exatamente e apenas o que são."
"O gesto subversivo, e poderosíssimo, de Melville, parece ser exatamente o avesso da travessura do pintor belga René Magritte, que nos mostra um quadro com a representação de um cachimbo e, abaixo dela, o texto que afirma ?isto não é um cachimbo?. Moby Dick nos mostra um mundo carregado de sentidos, homens, metáforas, imagens, palavras e ações todas prenhes de um significado maior, quase cósmico, e no entanto repete o tempo todo, como um mestre zen, ?isto é apenas uma baleia?. Julgue por conta própria."