spoiler visualizarNeldus 12/10/2012
Uma tragédia carioca sob encomenda.
A peça escrita por encomenda de Fernanda Montenegro foi encenada pela primeira vez no dia 7 de julho de 1961, no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro, sob direção de Fernando Torres e cenários de Gianni Ratto. Contava também com um elenco de primeira grandeza, o qual incluía nomes como Ítalo Rossi, Mário Lago, Francisco Cuoco, Zilca Salaberry e Fernanda Montenegro.
A ação se passa na cidade do Rio de Janeiro e tem como fato desencadeador um atropelamento na Praça da Bandeira. A partir daí, a trama se divide em polos e visões opostas e, por assim serem, terão interesses diferentes, dando origem a uma série de conflitos que sustentarão a trama.
A peça se inicia na sala do delegado Cunha. Como já havia acontecido em "Vestido de Noiva", a primeira cena mescla o alvoroço policial e jornalístico sobre um atropelamento não muito bem esclarecido. Em "O Beijo no Asfalto", o fato é reconstituído sob a ótica das testemunhas que presenciaram, além do acidente, o momento em que um pedestre ajoelha e beija o desconhecido ferido na boca.
Todo o enredo seguinte mostrará o embate entre a malícia e a solidariedade. Solidariedade essa representada pela inocente figura de Arandir, marido de Selminha, que ao encontrar outro homem agonizando no meio da rua, não hesitou em atender o seu pedido, dando-lhe o último beijo no asfalto.
Arandir, contudo, é envolvido numa hábil rede de intrigas, interesses e mentiras. Interessado em forjar um escândalo e assim conseguir vender milhares de exemplares de jornais, o repórter Amado Ribeiro se juntará ao corrupto delegado Cunha para manipular provas, coagir testemunhas, com o objetivo de montar um fato que lhes fosse conveniente. Concomitantemente, o sogro de Arandir, seu Aprígio, irá questionar não apenas a validade do casamento da suas filha, mas a sexualidade do seu genro.
Em meio a tantos escândalos, vemos o recente casamento de Selminha e Arandir sucumbir diante da desconfiança. Vemos também Dália revelar ser apaixonada pelo cunhado (imagem recorrente no drama rodrigueano). A trama se encerra com a total desestruturação da ordem primeira e a revelação da paixão de Aprígio pelo genro. Esse, logo em seguida, assassina Arandir dizendo que só assim poderia voltar a pronunciar o nome do marido de sua filha.