Franco 12/07/2023
Ou conhece teu Destino e conhecerá tua perdição
Enredo:
Macbeth toma conhecimento de seu destino: será rei. E o que poderia surgir como uma benção acalentadora, do tipo 'vê? se acalma e deixa rolar que tua nobreza há de chegar', é o ponto de ignição para uma espiral de cobiça, violência, caos e loucura.
(possíveis) pontos positivos:
- trama direta e progressiva, que dá seu motivo/argumento logo de início e vai com ele até o fim;
- personagens em mutação, transformando-se a cada página (um deleite para quem curte acompanhar a gênese dos vilões, se é que Macbeth pode ser assim definido);
- um contínuo clima de agonia em todos os âmbitos, perfazendo a clássica noção de clímax;
- ótimos trechos com frases que captam, com simplicidade, a verdade das coisas.
(possíveis) pontos negativos:
- gênero teatral, logo, com monólogos via de regra expositivos;
- diversos personagens, nem todos com o mesmo peso na trama, daí ter de recorrer à lista de personagens para saber quem é quem (pelo menos se você como eu tiver a memória de peixinho dourado);
- algumas marcas de época que hoje em dia caem meio pesadas aos olhos, como o reforço de uma certa virilidade extremada e de uma feminilidade, digamos, 'traiçoeira'.
o que mais impressionou:
por mais que a história dê muito o que pensar sobre poder, cobiça e vingança, a mim o que mais impressiona é a reflexão sobre o destino: sabendo o que será, o que fará você disso? Nada na história indica que o destino de Macbeth precisava ser assim tão turbulento; ele sabia o fim, mas precisava se dedicar tanto a mexer nos meios? Afinal, benção ou maldição saber o dia de amanhã, sem que saiba exatamente como serão essas horas de intermeio? Bônus ainda para o personagem de Macbeth, o vilão mais vítima que tive o prazer conhecer, e bônus para Shakespeare: a gente tem tanto medo dos grandes clássicos (ainda mais de gêneros menos usuais nos efêmeros dias atuais), mas nada que uma tradução amigável não faça para nos deixar perceber a beleza e o mérito das obras imemoriais.
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"Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida não passa de uma sombra que caminha, um pobre ator que se pavoneia e se aflige sobre o palco - faz isso por uma hora e, depois, não se escuta mais sua voz. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado."