spoiler visualizarCarlabknho 04/03/2024
A liberdade na morte
Cachorro Velho era um escravo, a quem até o nome foi negado. Viveu a vida inteira numa fazenda de engenho de açúcar, mas sempre sonhou em conhece suas origens, se aproximar da África e o do que ela representeava para os escravos: dignidade e honradez.
Era obediente, um dos mais obedientes, não por vontade, por medo. Perdeu a mãe, o melhor amigo, conhecidos de lavoura, todos pelas mãos do patrão, pela mão do homem branco, de quem não podia se vingar, a quem não podia sequer olhar nos olhos.
Nos primeiros capítulos conhecemos o seu lado mais rabugento, reclamão, indiferente, que mantém distância dos outros escravos (menos de Beira) e suas inquietudes: resgatar as memórias do passado (sua memória já não ajuda), sua conectividade com sua ancestralidade e o desejo de conhecer o que há além da porteira que ele toma conta, explorar a vastidão o mundo.
No decorrer da história vemos como o personagem sente o envelhecimento, nota que se tornou inútil, trabalhando como dificuldade de andar, corpo mais lento, lapsos de memória, dores, pequenos cochilos incontroláveis. Sem receber nenhuma atenção, se esquecem dele até na hora das doações anuais, há anos e estava com frio, com a mesma blusa velha, que com tantos anos e uso perdeu a manga. Muitas vezes desejou a morte, a única forma de mudar sua realidade.
Mesmo tentando manter a marra e se mostrar indiferente a emoções, ele começa a sentir algo especial por Beira e por ela ele foge, projete uma criança escrava, busca o Quilombo El Colibri, se aventura, vai até o limite, morre e na morte encontra sua liberdade.