Marina Fülber 11/02/2018Devo ser das poucas pessoas que ama as leituras obrigatórias do vestibular. Normalmente já pegam os livros meio a contragosto pela obrigatoriedade, mas eu vou com todo o prazer possível e ainda me surpreendo, por ser melhor do que eu imaginava.
O Diário da Queda é simplesmente maravilhoso. O narrador conta sobre a própria vida falando da vida do avô, do pai e do amigo João, e usa a história de todos esses pra compreender sua própria vida. É uma análise psicológica dele mesmo, é um retrato de como a vida dos outros influencia na nossa, de como, mesmo sem perceber, temos traumas dos traumas dos outros que têm traumas dos traumas dos outros, que afetam de uma forma sem tamanho nossa existência.
Os capítulos têm nomes de "coisas que sei sobre meu avô", "coisas que sei sobre meu pai" e "coisas que sei sobre mim", mas, no fim, o livro todo é sobre ele próprio. O processo é incrível. A escrita é incrível. Sem linearidade, separada por parágrafos numerados, pulando da vida de um pra outro, de um acontecimento pro outro, ele nos leva a cada trecho construindo os motivos de ele ser hoje, aos 40 anos, com dois casamentos frustrados e tentando um terceiro, do jeito que é.
Eu não consigo ser muito objetiva quando falo sobre algo que me encantei tanto como esse livro. Ele mexeu comigo. Mexeu comigo porque o livro todo mexe com o personagem, o livro todo fala de traumas, de vivências, de acontecimentos fortes e marcantes da vida dos quatro, mas que foram, acima de tudo, marcantes pro narrador. Também me fez pensar sobre o quanto de mim é mesmo meu, e não algo proveniente dos acontecimentos com meus pais, com as pessoas ao meu redor, com meus antepassados que sequer conheci.
É o diário da queda de João no aniversário, da queda do avô no suicídio, da queda do pai no alzheimer, da queda do narrador no alcoolismo. Cada um, na sua queda, caindo mais fundo, por estar caindo, além de sua queda, a queda que o outro não sentiu.
Não sei me explicar. Apenas leiam. Vale a pena demais. Que, aliás, não é pena nenhuma.