Diário da queda

Diário da queda Michel Laub




Resenhas - Diário da Queda


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Sally.Rosalin 19/01/2015

Diário da queda
Escrita por um autor brasileiro, Diário da Queda é uma obra de ficção e autobiografia. Gira em torno de três gerações de uma família judia e o foco é o trauma pessoal que cada integrante dessa família carrega. O avô do personagem central foi prisioneiro de Auschwitz, sendo esse seu trauma. Ao cometer suicídio, torna o ato o trauma do seu filho e pai do personagem já citado. Já o trauma desse é a participação em uma brincadeira de aniversário entre alunos judeus com um aluno não judeu, por nome João. Após essa tragédia, ele muda de escola, mas passa a agora a ser perseguido por ser judeu em uma escola não judaica. O autor vai misturando passado e presente e aborda o tema alcoolismo, citando também o livro até então por mim desconhecido "É isto um homem?" Primo Levi. Temas conflituosos, mas escritos com leveza e possíveis de trabalhar até em sala de aula.
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Hermes 13/05/2014

Depois de ler diversos livros bons e alguns ruins, confirmei a minha opinião de que, se a pessoa não tem nada de interessante a dizer, ela não deve se dar ao trabalho de escrever um livro. Parece que muitos escrevem por pura vaidade. Não é a vaidade que deve mover alguém a lançar uma obra; não se deve escrever por escrever; mas sim porque alguma ideia nova e importante se tornou forte e grande demais para ficar só na cabeça e exigiu que fosse passada para o papel. Não estou dizendo com essa opinião que o livro deve necessariamente ser denso; um tema leve também tem o seu lugar. Quero dizer que, em todo o caso, sendo leve ou denso, o livro deve ser criativo e original; deve dizer algo novo.

Diário da Queda, de Michel Laub, enquadra-se na categoria de bons livros, aqueles que têm algo interessante a dizer, e, no caso, também denso. O autor nos apresenta uma história forte e reflexões inquietantes. O narrador e protagonista do Diário da Queda (cujo o nome não sabemos) decide, na fase adulta, registrar os acontecimentos mais importantes da sua vida, bem como compartilhar suas reflexões a respeito do paralelo que ele fez entre sua relação com o pai e a relação do seu pai com o pai dele. Entre os fatos importantes, estão aqueles que ocorrem em parte de sua infância e na sua adolescência. Nessas fases da vida, tal protagonista, judeu e rico, estudava numa escola judaica, onde ele e seus amigos judeus perseguiam ostensivamente um estudante não judeu e pobre, que era bolsista na instituição. A vida desse protagonista é reorientada por conta de uma série de fatos desencadeados pela grave maldade que ele e seus amigos cometem contra esse colega perseguido.

Essa reorientação contempla também sua visão sobre o holocausto. O narrador, ainda na adolescência, toma conhecimento de um diário bem esquisito que seu avô, sobrevivente de Auschwitz, que veio morar no Brasil, escreveu durante os seus últimos anos de vida. Seu avô era um sujeito bem fechado e meio estranho, que nunca pareceu ter superado o trauma vivido no campo de concentração. A partir do momento que leu o tal diário, o narrador, que nunca sentiu o peso das perseguições sofridas pelos judeus, passa a respeitar e entender o holocausto contra o seu povo. Apesar disso, ele não deixa de questionar o comportamento do avô, principalmente em relação ao filho (pai do protagonista). É a partir desse questionamento que Laub nos brinda com belas e profundas contribuições. Ponderamos se uma atrocidade apenas ouvida da boca dos outros, por mais pesada que ela seja, supera as atrocidades, ainda que não tão grande, que você inflige a outra pessoa ou as que você sente na pele. Questionamos se um trauma, por maior que ele seja, pode valer mais que a vida de uma pessoa, sobretudo se essa pessoa for seu filho. O narrador tira as sua conclusões, com as quais eu concordei.

Durante a leitura de Diário da Queda, eram frequentes os momentos em que eu parava para refletir sobre as ideias que o autor expunha. Ao fim, o livro me perturbou fortemente e até hoje me perturba, no sentido de me fazer pensar na vida, na relações com as pessoas e na relação com os meus filhos. Esse deve ser o papel da literatura. Ela deve nos impressionar de alguma forma. Não pode passar sem deixar rastro. E Diário da Queda deixou em mim alguns rastros profundos. Uma pena esse livro não ter recebido prêmios importantes. Com efeito, foi o vencedor da Copa da Literatura, que não deixa de ser um prêmio importante (os jurados são bem qualificados) e, até onde é possível, honesto, em razão da sua transparência (os jurados fazem resenhas e justificam o seu voto em determinada obra), mas é um prêmio informal, que se realiza na internet. Inclusive, na Copa da Literatura, ele fez a final com O Sonâmbulo Amador e ganha. Achei a vitória justa; eu também votaria no Diário da Queda.

Não, o livro não é perfeito, ao menos no meu ponto de vista. Laub poderia ter evitado um ou outro clichê. Outro problema é que ele escreve em períodos muito longos. A gente fica ansioso por um ponto final que não vem, e a oração se alonga, e se divide, e outra oração entra no meio; o resultado é que a leitura fica meio confusa e cansativa. Um terceiro problema é que, por conta de sua narrativa cíclica, acaba por haver muita repetição do pontos da história. E por falar em repetição, ele adora repetir palavras e isso incomoda um pouco. Por fim, ele utiliza um recurso que não me agrada nadinha, que são as listas; existem muitas e bem grandes. Ao menos, ele teve o bom senso de escrever um livro curto; porque se fosse longo, com todos essas características, provavelmente eu encontraria dificuldade para terminá-lo. Ainda bem que, quando o livro ameaçava ficar enfadonho, ele terminou.

Porém, nenhum desses problemas compromete a qualidade do livro. Na verdade, eles ficam bem pequenos diante do potente conteúdo da obra. Embora não seja tão fã do estilo de Laub (parágrafo que parecem independentes, períodos longos, listas e repetição de palavras), eu gostei bastante do Diário da Queda. É uma leitura marcante. Impressiona porque o autor consegue extrair ideias novas de um tema tão batido como o Holocausto e nos fazer pensar sobre os impactos dessa atrocidade de uma forma bem atual. Se eu encontrasse o autor por conta de algum desses acasos da vida, faria questão de cumprimentá-lo e lhe dar os parabéns. Diário da Queda honra a literatura.

site: http://garrafadacultural.blogspot.com.br/
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jota 18/11/2013

E agora, João? Ou Michel?
Conhecia Michel Laub e este livro apenas de ouvir falar: nunca havia lido nada do autor antes. Mas agora posso dizer que Laub escreve claramente e a maneira como apresenta seu relato (em forma de tópicos numerados, a maior parte do tempo) também é interessante. Diário da Queda é um livro curto, que se lê rapidamente.

Não é um diário no sentido estrito da palavra (mas é no sentido amplo) e tampouco a queda (a principal, essa do título) tem qualquer coisa de metafórica, como eu esperava que fosse; é uma queda real, física. Não é uma queda do narrador, no entanto, mas de João, um gói (não judeu) que se torna seu amigo por uns tempos, envolvido num episódio lastimável da pré-adolescência de ambos (é Laub contando um episódio ocorrido de fato em sua vida ou é apenas ficção?).

De física, a queda de João se torna metafísica na cabeça do narrador sem nome, uma pedra em seu caminho (como aquela no poema de Drummond). Da mesma forma, seu conhecimento sobre o massacre de judeus em Auschwitz, onde morreram vários parentes de seu avô. O campo de concentração de Auschwitz é citado muitas vezes e também o livro que o narrador acredita ser o mais importante escrito sobre ele: É Isto Um Homem? do judeu italiano Primo Levi, reconhecidamente um obra-prima sobre a barbárie nazista.

O avô nunca foi prisioneiro alemão, teve a sorte de vir antes para o Brasil, para Porto Alegre, onde Laub efetivamente nasceu. Este Diário então é sobre esse avô, seu filho, o neto (o narrador) e o filho dele que vai nascer. Mas também há seus dois casamentos desfeitos e o relacionamento problemático com a terceira mulher, a relação conturbada com o pai, com os amigos depois da queda, o vício de beber, o medo de viajar de avião, etc. Uma queda aqui, outra ali, outra mais adiante: várias quedas vão ocorrendo e o narrador vai se conhecendo...

Efetivamente, as melhores partes do Diário são aquelas em que o narrador trata de sua infância e adolescência. Ele foi um menino e um jovem um tanto estranho, digamos. Portanto, um personagem bastante interessante para o leitor (são as partes onde há mais humor, palavrões, estrepolias de criança, mas também brutalidade). Mais interessante do que o homem de quarenta e poucos anos que encontramos na conclusão do relato. Ainda que com muita esperança nos dias que virão...

Lido entre 12 e 14/11/2013.
Diuliane de Castilhos 21/09/2017minha estante
Até onde entendi o avô do narrador consegue fugir de Auschwitz, então foi feito prisioneiro alemão sim.




leandro_sa 11/02/2013

A queda, o diário e a busca da identidade.
Geralmente associado ao tema da memória, Michel Laub trata em "Diário da Queda", entre outros assuntos, de algo intrinsecamente ligado a esta: a construção de identidade.

O narrador do romance nos introduz a um universo permeado por uma herança cultural com a qual não tem nenhuma ligação afetiva.

A incoerência entre o discurso do pai sobre o sofrimento dos judeus e a crueldade com que os colegas judeus tratam João gera no protagonista a sensação de desconforto para com seus conceitos familiares.

Pode-se dizer também que o romance nos apresentas diversas quedas, desde a física sofrida por João, passando pelo avô, pelo pai do protagonista e pelo próprio, que ao longo da vida experimenta diversos fracassos amorosos e psicológicos.

Enfim, conflitos geracionais, diários com confissões cujas intenções são claramente distintas e busca por identidades próprias são os elementos que fazem desta uma grande obra literária.

Parabéns, Michel Laub.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 15/11/2012

Michel Laub - Diário da Queda
Editora Companhia das Letras - 152 páginas - Lançamento 14/03/2011.

Michel Laub, neste seu quinto romance, lida pela primeira vez com a herança cultural legada por sua ascendência judáica em um romance sobre a memória, não apenas a memória individual, mas também a memória coletiva de três gerações de uma família que tem a história marcada pelo holocausto. Um tema bastante complexo e que ainda apresenta a dificuldade de encontrar um ponto de vista original, que não tenha se esgotado, longe do tom de vitimização tão comum e já abordado na literatura por autores como Primo Levi. O próprio Michel Laub deixa clara a impossibilidade, mas, ao mesmo tempo, a necessidade de discutir essa herança e os efeitos dela na formação do seu personagem no trecho abaixo:

"Eu também não gostaria de falar desse tema. Se há uma coisa que o mundo não precisa é ouvir minhas considerações a respeito. O cinema já se encarregou disso. Os livros já se encarregaram disso. As testemunhas já narraram isso detalhe por detalhe, e há sessenta anos de reportagens e ensaios e análises, gerações de historiadores e filósofos e artistas que dedicaram suas vidas a acrescentar notas de pé de página a esse material, um esforço para renovar mais uma vez a opinião que o mundo tem sobre o assunto, a reação de qualquer pessoa à menção da palavra Auschwitz, então nem por um segundo me ocorreria repetir essas ideias se elas não fossem, em algum ponto, essenciais para que eu possa também falar do meu avô, e por consequência do meu pai, e por consequência de mim."

A narrativa é construída em primeira pessoa e parte de um evento marcante na infância do protagonista sem nome que aos treze anos, durante uma brincadeira cruel com outros colegas, em uma festa de aniversário, deixa cair o aniversariante, único que não é judeu e, justamente por isso, é perseguido e humilhado pela turma em um antissemitismo ao contrário. A história do avô, sobrevivente de Auschwitz, que após o suicídio deixa um estranho diário em forma de verbetes e sem qualquer referência à tragédia do genocídio é constantemente relembrada pelo pai como uma forma de preservação da cultura judaica, mas essa realidade parece estar muito distante do cotidiano da família na Porto Alegre dos anos oitenta.

O narrador aos quarenta anos, busca, já no terceiro casamento em crise, a chave para a sua identidade e ao ser chamado para dar a triste notícia ao pai de um prognóstico precoce de Alzheimer, em outra referência genial à memória no romance, irá refletir sobre a trajetória de sua vida. Michel Laub utilizou o recurso de montar o romance em parágrafos curtos e numerados, o que, apesar da fragmentação, funcionou muito bem para alinhavar as mudanças de tempo entre as diferentes épocas da vida do personagem, sem quebra de continuidade. Um livro corajoso e que certamente ajudará a consolidar a carreira de Michel Laub como um autor de destaque na literatura contemporânea brasileira.
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Nazaré 13/05/2012

3 fatos, 3 gerações e a confluência.
Um livro que fala de 3 gerações - avô, pai e filho, sendo o último o autor e narrador da história.

Para cada geração, uma fato marcante.

Para cada fato marcante, uma consequência na vida própria e na vida do descendente, a geração seguinte e seguinte.

Um livro com uma linguagem dinâmica - com a qual rapidamente o leitor se habitua, cheio de orações sindéticas aditivas que ratificam o encadeamento dos fatos.

Um livro que nos faz refletir acerca do fato de deixarmos alguns episódios de nossa vida - considerando o nossa como as histórias e os episódios que envolvem (também) nossa família e os que nos cercam - tomarem conta dela, ou de os usarmos como desculpa para as nossas fraquezas.

Um livro que nos mostra como nos tornamos a confluência do que vemos e do que vivemos.

Um livro de memórias: vividas e ouvidas.

Um livro como um final bonito!

")
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E. Dantas 16/12/2011

Honesto
O livro tem 150 páginas que fazem a estória passar voando sobre seu aspecto e folhas grossos. Notei isso por que fiquei impressionado com como um autor poderia ser capaz de girar tanto em torno de um assunto sem se tornar monótono, lento e repetitivo.
Michel Laub, até então desconhecido para mim, se mostra um desses autores que a gente percebe defeitos, admira as qualidades, sorri com os acertos, reproduz muxoxos de solidariedade nos erros e passa a defender com unhas e dentes contra qualquer crítica extremista.
O Diário da queda tem uma formatação esquisitamente funcional e até mesmo confortável. A estória é boa por ser muito bem contada, do contrário seria um papo de bêbado desses que a gente desvia com um "pô, que papo brabo". E, como disse minha mulher, que leu o livro antes de mim, "o final é bonito, vale a pena".
Pra ser sincero, não sei realmente o que representa essa quase indiferença à obra de Laub, mas sei que ela vai te pegar de jeito e sem querer você estará lendo mais um pouquinho...
Beijos e inté!
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Cris 02/11/2011

Doário da queda - Michel laub
A queda. Pequenos ou grandes gestos infantis que nos definiem por toda a vida. Não é que definam mas contiuem o que somos e seremos. Gestos que ficam escondidos até que um fato qualquer, profundo ou raso, desencadeie uma lembrança.
Uma mão recolhida na hora errada e a queda. Ou teria sido a hora certa? Segundo os propósitos e intenções daquele momento específico, não poderia ter sido na hora mais correta. Mas o que agora é certo, pode de um minuto para outro passar a erro. E depois o arrependimento dá conta de criar uma história e uma tentativa de perdão. Que pode ser frustrada. Ou não.
Infância e adolescência são as épocas da maldade. A maldade que não parece ser má. Não para quem faz parte daquele universo. Só mais recentemente é que os adultos invetaram o bulling. E com isso implantaram as suas leis a um outro universo. É algo mais ou menos como tentar aplicar a lei da gravidade a um universo paralelo. Pode funcionar, mas não faz sentido.
Não que o bulling seja algo "legal". Não é. E comc erteza causa muitos traumas. Mas como ouvi desde sempre: o que não mata engorda e nos faz crescer. É a infância e a adolescência com toda sua luta por sobrevivência que nos torna fortes. As vezes até parece que os adultos esqueceram por tudo o que também tiveram que passar. É como se não houvessem tido uma adolescência. Esquecem-se de que são o que são por conta de tudo que tiveram que passar e suportar.
Diário da queda é sobre a luta pela vida. Sobre como é difícil e fácil para um jovem sobreviver. Sobre ganhar e perder amigos. Sobre escolhas e revoltas. Sobre aceitação. Ou não. Talvez, sobre resignação.
É sobre a luta adolescente que nunca nos abandona. Sobre a farsa de ser adulto. Sobre o fingimento de uma mundo inteiro. E ninguém fala sobre isso.
A vida é cruel. Ou engraçada. É tudo uma questão de ponto de vista. A vida é uma caixinha de recordações. De recortes que guardamos do livro de nossa vida. Fotos coloridas e preto e brancas. Frases soltas anotadas nas beiradas das recordações.
A vida é um diário. Daqueles que escrevemos para mais ninguém. Daqueles que escondemos com a ânsia secreta de que alguém descubra. Não há motivo para o registro que não queriamos que alguém leia. Se é realmente um segredo, não precisa de papel.
Diário da queda pode ser também sobre a questão judaíca. Mas isso não me diz muito. O próprio personagem não dá muita atenção a isso. É outro tempo. E algumas memórias podem ser esquecidas. Não podem é ser repetidas.
(Cristiano Lenz)
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Aguinaldo 08/09/2011

diário da queda
É sempre sutil, mas cada livro que encontramos conecta-se com os anteriores e futuros. Como leio vários livros simultaneamente é comum que estabeleça sempre associações (ou introduza contaminações) entre eles. Se no "A máquina de fazer espanhóis" valter hugo mãe inventa um futuro para um homem velho como seu pai nunca chegou a ser, nesse "Diário da queda" o que encontramos é a justificativa mental para a invenção de uma trajetória, ou melhor, de uma guinada na vida, uma mudança no futuro de um homem que pode não vir a se tornar pai caso continue com seus hábitos mais entranhados. Trata-se de uma boa história, num livro muito bem escrito. Lembra um tanto o "Quase memória", do Carlos Heitor Cony, mas "Diário da queda" é mais irônico e mais explicitamente literário. Michel Laub faz seu narrador contar a história de três gerações de homens, como em um recenseamento. Este narrador conta o que sabe de seu avô, o que sabe de seu pai e o que sabe de si próprio. Do primeiro as memórias são emprestadas, já que ele não o conheceu. Mas seu pai tampouco parece ter compreendido a complexidade do avô, um sobrevivente de Auschwitz radicado na Porto Alegre do final dos anos 1940. A relação do narrador com seu pai é igualmente difícil e ambígua. O livro parte da descrição de um acidente ocorrido durante o Bar Mitzvah de um colega de turma (gói) do narrador. A obsessão do narrador com sua culpa no acidente e todos os desdobramentos desta culpa (rompimento com os demais colegas, mudança de colégio, briga com o pai, tentativa de se redimir através de uma amizade artificial este colega, as traições cruzadas e seus relacionamentos afetivos complicados) servem como espelho para ele analisar a memória e os atos de seu pai e de seu avô, como se ele estivesse transferindo essa culpa original para alguém, por conta dos atos pregressos de seu pai e de seu avô. Há uma espécie de economia em seu texto (e registro isso não exatamente como um demérito). Ele não é nada verborrágico, nem se preocupa em criar metáforas elegantes, que adornem ou glamurizem o que se descreve. Os capítulos algo fragmentados basicamente constrastam as agruras do Alzheimer, a história judaica pós segunda grande guerra e a intoxicação do alcoolismo. O texto progressivamente acumula camadas de memória, que podem ser reais, tanto as individuais quanto as coletivas, mas também podem ser inventadas ou manipuladas, tanto individualmente quanto coletivamente. Laub apresenta um mosaico de reflexões sobre esses três grandes temas que certamente não irão deixar nenhum leitor indiferente. Bom livro. [início 31/08/2011 - fim 03/09/2011]
"Diário da queda", Michel Laub, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2011), brochura 14x21 cm, 151 págs. ISBN: 978-85-359-1817-5
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Andrea 11/07/2011

A igualdade das diferenças
No aniversário de treze anos o menino João, um bolsista não judeu de uma escola israelita, é derrubado no chão por seus colegas.

Um avô não conhecido, sobrevivente de Auschwitz, deixa um caderno cheio de verbetes, sem detalhar sua história, sendo um contraponto a outro familiar que publicou um livro sobre o holocausto.

Tentando ser compreensivo com as atitudes do filho, está um pai que desde cedo luta para manter tudo em ordem e acaba recorrendo a escrita para relembrar as próprias memórias.

No centro disso tudo está o narrador, um garoto fraco, um homem imaturo, que fala em culpa e perdão, busca se libertar das próprias raízes, mas parece estar sempre fugindo de si mesmo.

Resenha completa em:http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2011/07/diario-da-queda.html
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BiblioCaldas 03/07/2011

Raríssimas vezes tenho a oportunidade de ler esses autores que são elogiados pela crítica em geral. Pelo que pude perceber desse livro, as expectativas criadas em sua construção são concernentes. Laub acaba com o esquema da leitura linear, se movimentando, com seu narrador, ora pelos traumas do avô (Auschwitz), ora pelos do pai (lembranças) e ora pelos do próprio narrador (alcoolismo). Faz com que um tema, inesperadamente na história, se interligue com o outro, com uma certa lógica. Faz com que pensemos em alguns acontecimentos, históricos ou não, por outros pontos de vista; nas relações de "herança familiar" que recebemos, querendo ou não, de nossos pais e avós. Em minha singela opinião, vale a leitura.
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