Pedro Bastos 14/05/2013De tabu às capas de revista Com "Histórias íntimas", a historiadora Mary del Priore traça um panorama importante da evolução de um dos tema mais instigantes, e por que não prazerosos, da nossa sociedade: a sexualidade. De tabu a assunto despojado entre a imprensa e as rodinhas sociais, o sexo é mostrado no livro como um assunto que obteve seus merecidos avanços e diferenças de abordagem, o que não lhe tirou o caráter polêmico, apesar disso. Polêmica, aliás, que não precisamos de artigo científico algum para comprovar que mesmo em 2013 ainda existe certa resistência em se falar de - e em se fazer - sexo.
O livro tem uma perspectiva bastante feminina sobre o sexo - isto é, do personagem "feminino" às voltas com a sexualidade e suas questões -, promovendo um contraponto bastante interessante entre a mulher do século XVIII, vista como um ser pecaminoso à sociedade com base naquelas ideias do paraíso, em que Adão só fora expulso do paraíso por causa da lascívia e opulência de Eva, e a mulher do século atual, donas de seus próprios corpos, quando não escravizadas pela ditadura do corpo perfeito. O pecado de Eva, naquela época, seria retratado então na dor maldita dos partos, um mal necessário para a "cicatrização" do pecado, onde, futuramente, no dia do julgamento, as mulheres nasceriam como homens, os "seres perfeitos".
A partir de informações como essa é que se dá o interesse integral ao livro pelo leitor. A narrativa da autora, descontraída, dialoga na maior parte dos capítulos com os tempos contemporâneos e com o próprio leitor, o que facilita esse encaixe de informações e, consequentemente, uma reflexão.
Um ponto negativo de "Histórias íntimas" talvez seja o fato de a autora se apropriar de muitas referências regionais para explicar a evolução da sexualidade e do erotismo - no caso, o foco fica muito marcado nas dinâmicas das grandes metrópoles brasileiras, em especial o Rio de Janeiro. É compreensível, pois talvez seja difícil encontrar bibliografia que trouxesse informações desta natureza respectivas a outras cidades do país, sem mencionar que o Rio de Janeiro era o centro econômico e intelectual brasileiro, o que se traduz em um cenário pioneiro para tal. No entanto, ao narrar as questões comportamentais de meados do século XX em diante, a autora utilizou na maior parte das vezes uma mesma fonte, a Revista Veja, para ilustrar o panorama desta época. Recorrer a uma única fonte do âmbito jornalístico para dar suporte à pesquisa não invalida o trabalho tampouco as informações encontradas ali, apesar de sutilmente impor restrições à abrangência de um assunto que merecia outras perspectivas.
Como um todo, "Histórias íntimas" tem bom enredo, agrega cultura e é um ótimo passatempo.