Lucas Rabêlo 13/10/2022
A ciência da impressão
Stephen King foi abraçado no imaginário como expoente do terror, desde quando assumiu tencionar em suas histórias provocar um sentido primitivo nosso, o medo, sob arranjos naturais. Em ?Carrie?, sua estreia em romances, conseguiria reafirmar esta manifestação sensorial em trabalhar um horror ainda contemporâneo, o transtorno mental, e fazer dele sua temática.
Gosto de pensar na pluralidade que o termo ?horror? sugere, já que possui um significado que remete à aversão, à repulsa, à multicausalidade de uma percepção ameaçadora. Com isto, ousou diversificar em suas tramas para não apenas contribuir com a cartase sobrenatural, mas com temores críveis.
Se debruçando no conceito da parapsicologia, ainda fresca, empírica, amarra sua própria defesa da singela conclusão científica de comportamentos telecinéticos ao transformar sua protagonista numa portadora da síndrome - capaz, portanto, de mover e exercer força em objetos, fazendo-os se movimentarem somente com o poder da mente. Adiciona-a em uma cidade pacata, rebenta de mãe beata, e perpassada aos estágios da repressão e opressão íntima e social.
Embora hoje conhecida até o avesso, a obra ainda empolga numa leitura inédita, desde recém chegados aos acostumados nos algoritmos do autor. Na narrativa, a consagração de Carrie White, em que os eventos que se sucedem ao famoso baile de formatura, e à toda sua vivência em Chamberlain, são discutidas por testemunhas díspares, com menções de populares, academicistas, de jornalistas e de um narrador em terceira pessoa, que serão responsáveis pela captura do leitor na sua trajetória sangrenta de dor e vingança.
Contrariando o desfecho de sua protagonista, o legado midiático de ?Carrie? vive no referencial globalizado. Mas para além da densidade de suas poucas páginas, é a tranquilidade de King em apenas criar um entretenimento não punitivo, nem cabeça, que liberasse sua anti-heroína de um destino sádico de viver junto de suas vítimas criadas em papel; sua redenção é a melhor conclusão para uma alma desencontrada.