Calunga

Calunga Jorge de Lima




Resenhas - CALUNGA - Romance


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Daniel1754 01/02/2024

Dolorida demais, é dessas escritas que te arranca um pedaço da alma e vai-se embora mascando certo brilho nos olhos que te habitava. A lama, a maleita, o santo, as súbitas e brevíssimas descrições de violência brutal, que pegam o leitor desprevenido, tudo terrível. Termino o livro sentindo que há coisas que é melhor não saber, sentir, lembrar.
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Joao.Ricardo 23/04/2020

Obra interessante de Jorge de Lima
Tem livros que somos obrigados a ler pelo bem dos estudos. E esse foi um deles.
Calunga, de Jorge de Lima, é a história do protagonista Lula Bernardo ao retornar à sua terra natal com o intuito de auferir progresso ao seu povo decadente.
É interessante observar que Jorge de Lima faz objeções às políticas de controle de corpos como parte de um sistema incapaz de superar o atraso daquela população. Uma das ideologias inerentes ao momento pós-revolução de 30 e, inclusive, se alinha ao autor que participou das políticas pedagógicas para a nacionalização e a politização da cultura, integrou a C. Nac. de Lit. Inf., que se empenhou na definição de um estatuto para literatura infantil no Brasil e a implementação de estratégias para sua promoção compatíveis com a política cultural promovida pelo Estado. Curiosamente, Lula e J. de Lima atuam em uma lógica de alterar um sistema e modernizar uma população que não prospera.
É o ânimo modernizador que circunscreve toda a narrativa de “Calunga” e revela a missão de paz de Lula em favor de seu povo. A viagem de Lula Bernardo também poderá ser analisada na repercussão em seu íntimo, na mesma toada de “Divina Comédia”, em que Dante vai aos círculos profundos do inferno para compreender a si mesmo.
São tarefas hercúleas e gananciosas se impostas de maneira unilateral. Há na obra a caracterização do povo da lagoa do Sururu como sendo seres atrasados, pouco letrados de costumes pouco comuns, arredios aos ditames modernizadores. Tudo resta inferior sob o olhar austero do narrador e de Lula.É a lógica denunciada em “Orientalismo: o oriente como invenção do Ocidente”, de E. Said. A narrativa revela uma lógica de hierarquização e controle de um povo sob a égide de uma realidade vista como mais civilizada, a afirmação da superioridade é dada pela identificação do outro sob uma perspectiva unilateral e serve como ferramenta para instaurar um projeto de domínio. Sob o prisma de Said na sua obra, em suma, “o Orientalismo como um estilo ocidental para dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o Oriente”.
#cosacnaify #literaturabrasileira
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Pandora 01/11/2017

Lula Bernardo é um alagoano que decide ir para Recife tentar uma vida melhor. Lá passa muitos anos, até que resolve voltar para sua terra para procurar a família e também para, com o seus conhecimentos, ajudar o seu sofrido e miserável povo.

Estabelecido em Bebedouro, uma pobre vila no meio do manguezal, Lula decide criar carneiros, uma novidade na região. Apesar do estranhamento, seu jeito simples de patrão que quer ser ao mesmo tempo amigo, o faz ser conhecido por toda a gente como uma pessoa boa, mas, também um estrangeiro, um diferente, não um deles. Determinado a melhorar as condições de vida daquele povo miserável, sujo e doente de malária, Lula tenta explicar a eles coisas básicas sobre higiene, mas com o tempo, descobre que tem muito a aprender com eles também.

Além da vida difícil num lugar onde a natureza pode ser muito traiçoeira, há a figura do coronel Totô de Canindé, um criador de porcos violento e dissimulado, que às vistas trata Lula com deferência e uma fingida humildade, mas que pelas costas vai destruindo tudo o que ele constrói. Pioca, o braço direito de Lula, tenta alertá-lo o tempo todo que ele deve ter uma atitude mais rígida e de enfrentamento com o vizinho, mas Lula, na sua ingenuidade de paz nunca o ouve, com graves consequências.

Uma narrativa essencial sobre o nordeste e sobre o povo brasileiro que a gente não vê.

"- Zé Pioca, estou aqui para viver, para fazer vocês viverem de novo numa terra nova. Isso é o começo da terra, Zé Pioca.
- Desculpe a palavra, patrão, mas a gente está aqui mais pra morrê do que mesmo pra vivê. Não acho isso começo de terra não, patrãozinho. Isso é mais antes o rabo do mundo. Isso fede, não está sentindo não, patrãozinho?"
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Claufe 30/12/2016

CALUNGA, A ETERNA LUTA DO HOMEM CONTRA A TERRA
Nunca tinha lido o Calunga porque morria de medo de não gostar. Ainda mais que o início, que narra a chegada do personagem Lula Bernardo, reproduz em parte trechos do longo e belo poema GWBR, em que Jorge de Lima fala de sua primeira viagem de trem pelo nordeste. Mas o livro pode tranquilamente figurar entre os melhores romances regionais da década de 30, ao lado inclusive do justamente aclamado Vidas Secas, de Graciliano. Jorge de Lima revela o nordeste do mangual alagoano, da lama sedutora e assassina que dá e tira, da subjugação dos cambembes descendentes dos Caetés, que foram os primeiros habitantes daquela região. Ali, o coronel não tem usinas de cana de açúcar nem é dono de infinitas fazendas de coco ou de gado, e sim cria porcos e diss,emina doenças. Um monumental painel da eterna luta do homem contra a terra. Um cenário que nos arrasta para dentro dele com a força fascinante de um calunga, o sabor traiçoeiro de um bodoque de barro, o delírio da maleita. Creio que Calunga nunca foi lido como merecia. Talvez por Jorge de Lima já ser um poeta consagrado não lhe deram a devida atenção. Mas este é um livro fantástico e sobrenatural de tão bom, precisa ser redescoberto.
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