Debs 07/01/2024
Um Ode à Insatisfação
Se me pedissem para descrever Emma Bovary, diria que é um empreitada um tanto difícil, mas tentando, acredito que isso aqui resolveria: durante a leitura, a imaginei bela como um lírio. Uma mulher de elegâncias e sutilezas, como aquelas bonecas de porcelana que são intocáveis por fora, mas vazias por dentro. Além da beleza, tem apreço por romances, desses que mostram cavalheiros melodramáticos que proclamam versos às suas mulheres amadas. Desses homens que não possuem defeitos e consequentemente, não existem. Por baixo dos panos, Emma me pareceu extremamente caprichosa e sedenta de algo que não conseguiu identificar. Percebi que tinha muito, poderia construir palácios com seu esposo, mas preferiu o conforto momentâneo que o luxo do quarto de hotel lhe proporcionou. Entregou-se totalmente aos seus amantes, planejou encontros engenhosamente para suprir aquilo que, aparentemente, não encontrou em seu matrimônio. Emma fugia do tédio dos dias ordinários, da calmaria do casamento, da mediocridade do seu esposo, para viver a intensidade dos amores proibidos. E ainda assim, depois de sugar e ser sugada até a última gota, retornava em seu espírito aquela sensação de vazio. Infelizmente, Emma não conseguiu enxergar o extraordinário no ordinário. E pobre Charles! Ele (seu marido)foi o único que me cativou a ponto de me comover com sua fidelidade. De modo geral, é um livro excelente. Me fez pensar nas inúmeras vezes que me peguei insatisfeita com a minha vida, com tédio e me sentindo perdida. Pois foram esses os sentimentos que mais enxerguei ali, em Madame Bovary.