antuan_reloaded 13/09/2023
[8/10]
A crítica perspicaz de Wood sobre a habilidade de Flaubert em "encontrar palavras exatas para representar a vida" ressoa intensamente ao ler "Madame Bovary". Cada palavra parece essencial para se desenvolver a profundidade dos conflitos enfrentados pelos personagens. É um exercício extremamente moderno, o qual eleva toda a forma de se escrever romances que vinha sendo feita, mas também causa enfado para o leitor contemporâneo.
Nesse sentido, a leitura, é verdade, pode soar desafiadora em certos pontos devido ao ritmo mais lento e às extensas descrições. Ao mergulhar nessa armadilha flaubertiana tive um pouco de dificuldade, confesso, tanto que demorei meses para sair da primeira parte. Todavia, quando acostumado com a minuciosa atenção aos detalhes, pude desfrutar de situações arrebatadoras e compreender a fundo todos conflitos internos de Emma Bovary.
Emma é muito mais do que uma mera figura de protagonista. Flaubert a molda com tal maestria que a torna uma personagem redonda, repleta de camadas e nuances. Sua luta incessante pela felicidade, muitas vezes à custa dos outros, a levou a um ciclo autodestrutivo de escolhas trágicas. Foi fascinante ver como aos poucos essa personagem foi definhando, recorrendo inclusive a situações constrangedoras para a resolução de problemas.
Em resumo, "Madame Bovary" é uma obra que merece ser saboreada com calma, apreciando cada nuance e observando as camadas de significado que Flaubert habilmente teceu. É um verdadeiro testemunho da genialidade do autor como um dos precursores da narrativa moderna, e uma imersão profunda na alma humana. Uma leitura que permanece, e continuará a permanecer, apesar da dificuldade inicial.