Tami 17/04/2012A Síndrome de CopérnicoVigo Ravel é o único sobrevivente de um atentado que destruiu um dos maiores prédios econômicos de Paris. O motivo dele ter sobrevivido foi o fato de ter ouvido algo como uma voz, uma frase sem sentido, que lhe deu uma intuição de urgência para sair do local. O único problema é que Vigo tem uma doença: esquizofrenia paranoide aguda. Teria sido essa voz apenas fruto da sua imaginação ou algo a mais?
"Meu nome é Vigo Ravel, tenho 36 anos e sou esquizofrênico. Ao menos é no que sempre acreditei." (Pág. 3)
Vigo, além de esquizofrênico, sofre de um sério problema de memória: não lembra nada do que aconteceu antes de ter 20 anos de idade. Acompanhamos toda a história através do seu ponto de vista - o que se torna algo bem interessante, visto que nem ele mesmo sabe o que é realidade ou imaginação.
A história é intercalada com as anotações de Vigo na sua caderneta Moleskine (uma cadernetinha simples que virou moda, especialmente lá fora), coisa que ele decide fazer por já não confiar muito na sua memória. Todas as suas indagações, descobertas e até mesmo algumas curiosidades são anotadas ali (acontecimentos do ano, a vida de Nicolau Copérnico, entre outras coisas). Inclusive, suas anotações representam as partes mais filosóficas do livro - o que significa que não é um bom livro para quem não gosta de filosofar.
"Não é porque sou esquizofrênico que não tenho o direito de refletir. Mesmo desordenadamente. Não há perigo na busca do sentido." (Pág.19)
Vigo está constantemente fugindo de algo ou alguém - ou assim acredita - e, devido a isso, o livro tem muita correria e muitas perseguições. Isso o deixa em um ritmo bem acelerado, até mesmo angustiante.
Além do personagem principal, a história nos apresenta outros dois que desempenham papel importante (além, claro, de vários mais secundários): Ágnes e o grupo EsFiNgE. O envolvimento de Ágnes na história achei um pouco desnecessário. Ela poderia ter se tornado uma personagem mais interessante se o autor não tivesse forçado algumas situações mais românticas. Já o grupo EsFiNgE achei interessante. É um grupo que luta para revelar algumas verdades que são mascaradas por pessoas de maior porte na sociedade. Gostaria de acreditar que temos alguns grupos assim ainda vivos.
O livro começa bem. Agitado, tenso, e segue assim por um bom tempo. Depois ele perde um pouco essa tensão e, pra mim, se torna um pouco cansativo, repetitivo. Muitas vezes o personagem se debate sobre os mesmos temas, as mesmas inseguranças - e isso cansa. Ali pela página 300 a história voltou a me pegar. Daí para o fim é um mistério - e uma resolução - atrás do outro. Ou seja, gostei da história mas acho que o livro não precisava de tantas páginas - poderia ser algo mais resumido.
O trecho a seguir (que faz parte das anotações de Vigo) achei bem interessante porque ilustrou bem a escolha para o título do livro, coisa que certamente eu nunca teria entendido sem ter a referência do texto.
"A síndrome de Copérnico deve o seu nome à certeza que ele tinha de estar de posse de uma verdade capaz de mudar a ordem do mundo - admitindo que tivesse uma - e, ao mesmo tempo, à recusa dos seus contemporâneos em levá-lo a sério." (Pág.152)
Recomendo: para quem não se importa com a quantidade de páginas (504), gosta de ação, suspense e, claro, filosofia.
Resenha publicada em: http://gavetaabandonada.blogspot.com.br/2012/04/resenha-sindrome-de-copernico.html