Carvão animal

Carvão animal Ana Paula Maia




Resenhas - Carvão Animal


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Thiago Barbosa Santos 02/10/2017

A intensa literatura de Ana Paula Maia
Conheci Ana Paula Maia há três anos lendo o ótimo romance Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos e O trabalho sujo dos outros. Fiquei impressionado com a intensidade da literatura da carioca. É um texto bruto, sem rodeios, mas detalhista, constrói com muita habilidade os cenários, o comportamento das personagens. É um soco no estômago.

Os livros fazem parte de uma trilogia chamada A saga dos brutos. Mas entre uma leitura e outra acabei demorando demais para ler o terceiro livro, o Carvão Animal. Concluí a leitura neste domingo e confirmei a ótima impressão que tive do texto dela.

Ana Paula Maia nos apresenta personagens que realizam trabalhos brutos, quem nem todos conseguiriam encarar, como abater porcos, coletar lixo, trabalhar no resgate à vítimas de incêndio e cremar corpos. O interessante é perceber como essas atividades, com o passar do tempo, vão moldando o caráter das personagens.

Carvão Animal conta a história dos irmãos Ernesto Wesley (bombeiro) e Ronivon (cremador de corpos). Conhecemos a dura rotina de cada atividade e como esse trabalho influencia diretamente no comportamento deles, para o bem e para o mal. Passamos também pelos dramas pessoais deles e como eles lidam com as desilusões. É um texto que prende o leitor.

Com as três leituras, já posso dizer que Ana Paula Maia é uma das minhas autoras contemporâneas prediletas.
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Felipe Duco 07/10/2016

Essa leitura não é uma recomendação, é um conselho!
Primeiramente, Jocasta é a melhor personagem do livro. Melhor construção, melhor personalidade, melhor subtrama, apaixonado em absoluto.
Embora seja o fim de uma saga, CARVÃO ANIMAL é um livro independente e pode ser lido até antes do primeiro ENTRE RINHAS DE CACHORROS E PORCOS ABATIDOS, que não altera a experiência.
***
Ana Paula Maia escreve sobre homens. Homens que têm uma estirpe de brutamontes, entretanto são muito sensíveis, pensam, percebem as coisas. O intuito da saga é mostrar como o caráter do homem é moldado através do trabalho que ele executa e ela faz isso com uma excelência tão grande que parece que ela inventou tudo o que tá dizendo, é impressionante. Tudo o que o livro fala, é passado com uma propriedade gigante e a gente é jogado, empurrado pelos dois pés da Ana Paula dentro da história e a gente cai de cara no chão da cidade fictícia e acompanha tudo com a boca cortada e morrendo de frio a propósito. E de medo também, porque de um jeito hiper-realista, com pessoas reais e atitudes possíveis o romance todo é muito sombrio.
Como toda obra de arte (e esse livro faz parte desse grupo) CARVÃO ANIMAL não deixa o coração confortável, ele mexe, deixa inquieto e enche a nossa cara de tapa. Mais que recomendado, a leitura desse livro é um conselho de todo meu coração!
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@lidcomisso 14/09/2016

Impressões
O término da Saga dos Brutos - tão bom quanto o começo - é mais um modo da autora esfregar na nossa cara coisas que a gente insiste em fingir que não existem, pois não se fala sobre. Afinal, viver não é um romance. "Quando a vaca é boa, até a bosta é valiosa."

site: https://www.instagram.com/lidicirilo/
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Pedro 29/08/2016

Ao narrar a saga dos irmãos Ernesto Wesley, um bombeiro, e Ronivon, funcionário de um crematório, na fictícia cidade de Abalurdes, Ana Paula Maia, uma das escritoras mais originais da nova leva de autores brasileiros, traça o cinzento panorama de vidas que se brutalizam por um cotidiano assustador e, ao mesmo tempo, irredutível. Cada um a seu modo, os protagonistas deste livro resistem a tarefas que são desdobramentos de suas personalidades, entre as rudezas de trabalhos que consistem em salvar do fogo ou destruir pelas chamas. Assombrados por um passado traumático e cheio de segredos, eles encaram, a duras penas, a vida que resiste após o grande incêndio.

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PH 25/08/2013

Lançados ao fogo
Uma coisa é certa: a literatura de Ana Paula Maia é afiada como uma navalha. Na sua "Saga dos Brutos" ela desvenda a alma masculina retratando personagens miseráveis, que vivem a margem da sociedade. São homens de aparência rude, que escondem suas emoções atrás de suas profissões.

"Ernesto Wesley abaixa a cabeça, resignado. Os olhos ardem, lacrimejam, mas ele não chora faz três anos. Não consegue desde então. Suas lágrimas evaporaram com o calor do fogo. O silêncio recai sobre os homens. Estão cansados, mas aprenderam a agir por impulso. Já conhecem seus limites e eles são extensos. A auto-estrada margeia um rio e Ernesto Wesley o observa ao largo de uma extensão que faz seus olhos espremerem-se na tentativa de alcançar os limites das doces e imundas águas turvas, como se procurasse em vagos vãos que estreitam para o fim algum sentido ou destino, mas nem sempre é possível ir além do que os olhos conseguem atingir. Ernesto Wesley é um brutamonte de ombros largos, voz grave e queixo quadrado, porém tudo isso se torna pequeno se se reparar em seus olhos. São olhos profundos, de cor negra e de intenso brilho."

Carvão Animal é a terceira parte da trilogia iniciada com o livro Entre Rinhas de Cachorro e Porcos Abatidos - que reúne as duas primeiras partes da saga. Neste episódio, a autora conta a história de Ernesto Wesley e Ronivon, dois irmãos que têm o fogo como fonte de trabalho. O primeiro é bombeiro, ajuda a salvar vidas. Ele tem resistência ao fogo e ao calor, mas sua sensibilidade ao frio é bem maior. Já Ronivon trabalha em um crematório. Passa o dia no subsolo de um cemitério queimando corpos. E são esses corpos queimados que geram a energia da cidade de Abalurdes, ondem vivem os homens.

"No fim tudo o que resta são os dentes. Eles permitem identificar quem você é. O melhor conselho é que o indivíduo preserve os dentes mais que a própria dignidade, pois a dignidade não dirá quem você é, ou melhor, era. Sua profissão, dinheiro, documentos, memória, amores não servirão para nada. Quando o corpo carboniza, os dentes preservam o indivíduo, sua verdadeira história. Aqueles que não possuem dentes se tornam menos que miseráveis. Tornam-se apenas cinzas e pedaços de carvão. Nada mais."

A história se passa dez anos antes dos acontecimentos narrados nas duas novelas anteriores. É nesse cenário que Ronivon e Ernesto Wesley cruzam seus caminhos com Erasmo Wagner e Edgar Wilson.

Os irmãos dividem a casa com Jocasta, uma cachorra vira lata que tem a função de cuidar do jardim e do minhocário. As minhocas dão uma renda extra para eles, que as vendem desidratadas para os compradores fazerem farinha. Nessa mesma casa eles tentam fugir do passado, principalmente Ernesto Wesley, que não abre as cartas que recebe de seu outro irmão, Vladimilson.

Ana Paula usa uma linguagem cinematográfica e conduz o texto de forma atraente e instigante. Ela consegue falar do universo masculino como se vivesse dentro dele. A influência de Tarantino revelada por ela é visível. Impossível não acreditar que Ana será uma das maiores escritoras dessa geração.

site: http://sobretudoealgomais.blogspot.com.br/2013/07/quem-conta-um-conto-lancados-ao-fogo.html
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Marcos Faria 03/03/2012

Não li as duas primeiras partes da trilogia A Saga dos Brutos, de Ana Paula Maia. Vou ter que ler, no mínimo para saber se estão no mesmo nível da terceira, Carvão animal (Record, 2011). É um romance incômodo. Primeiro achei que fosse por causa do naturalismo que marca todos os personagens – o bombeiro, o operador de forno crematório, os carvoeiros, todos com psiques que são uma extensão dos seus trabalhos ou das suas origens. Mas isso se justifica, e ganha credibilidade, à medida que o leitor se vê também capturado no círculo vicioso da cidade de Abalurdes. Quando isso acontece, basta mais um passo atrás para que o diálogo entre os funcionários do crematório (“- O que nós fazemos aqui? – Nós fazemos carvão”) se revele estruturante não só do romance mas também de uma cosmovisão.

(Publicado originalmente no Almanaque: http://almanaque.wordpress.com/2012/03/03/meninos-eu-li-20/)
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