Mateus 14/03/2019
Uma decepção chamada Dean Koontz
No início dos anos 2000, contava com 6 ou 7 anos e assisti ao filme “Fantasmas” (1998) pela primeira vez. Graças à minha pouca idade, fiquei extremamente assustado e fascinado pelo longa, sendo um dos primeiros de terror que vi na vida. O filme tornou-se um dos meus favoritos e assisti diversas vezes na televisão (apesar de ter achado pavoroso quando vi mais velho). Não fazia ideia que a obra era uma adaptação.
Alguns anos depois, já adolescente, encontrei o livro “Intrusos”, de Dean Koontz, perdido na biblioteca. A ótima história de terror criada pelo autor fez com que a obra se tornasse uma de minhas preferidas na época (apesar de questionar sua qualidade hoje em dia). Foi quando descobri que “Fantasmas” era baseado em um livro, também de Koontz.
Após anos de procura sem sucesso, já que o livro basicamente não pode ser encontrado à venda em nenhuma livraria ou sebo (embora tenha achado no Mercado Livre por – susto – R$ 375,00), tive a felicidade de encontrar o ebook na internet. Não perdi tempo e iniciei a leitura com expectativas altíssimas, passando dias longos e turbulentos em sua companhia. Três palavras: decepção do caramba.
Antes de mais nada, é melhor conhecer a história para entender por que o livro parece tão fascinante à primeira vista. Em “Fantasmas”, Jenny é uma médica que reside em uma pequena cidade das montanhas, Snowfield, de aproximadamente 500 habitantes. Após a morte da mãe, Jenny volta para sua cidade natal para pegar a irmã de 14 anos, Lisa, e volta para casa poucos dias depois. Ao chegar em Snowfield, encontra sua governanta morta na cozinha e descobre que todas os moradores da cidadezinha morreram ou desapareceram misteriosamente.
Em um ponto não posso negar: Koontz é ótimo para criar histórias de terror, capaz de envolver o leitor e despertar uma angústia latente durante os primeiros momentos de sua narrativa. O início de “Fantasmas” é extremamente viciante e quase não consegui deixar o livro de lado, principalmente nos momentos em que Jenny busca respostas percorrendo a cidade vazia, enquanto se sente vigiada por uma força estranha, até a chegada dos policiais de Santa Mira, a cidade vizinha, liderados pelo xerife Bryce Hammond (interpretado por um jovem Ben Affleck no cinema).
O grande problema é que o autor não consegue manter o ritmo da narrativa, criar bons momentos para dar sequência à história e, principalmente, fechar o livro de forma interessante ou mesmo inteligente. O que vemos é uma sucessão de páginas que repetem continuamente o clima de terror que foi explorado à exaustão no início, tornando tudo monótono e cansativo. Os personagens são rasos e não se desenvolvem, nada de interessante acontece e o desfecho final é apressado e forçado – bem diferente do que o início promissor prometia.
E o que dizer do título “Fantasmas”, que não faz NENHUM sentido? A base da história é realmente interessante, abordando diversos momentos históricos reais em que grandes populações ou grupos de pessoas desapareceram de forma misteriosa sem deixar nenhum vestígio (como Roanoke e a tripulação do navio Mary Celeste, no século XVI). Mas por que então a obra não se chama “Inimigo Antigo”, como a criatura responsável pelos desaparecimentos é chamada no livro?
Além disso, o personagem Fletcher Kale é totalmente inútil na narrativa, inserido apenas para protagonizar um pós-final desnecessário e sem sentido algum. Mais valia ter cortado Kale da história para deixa-la mais curta e menos cansativa. Tirando seu início, nada parece fazer muito sentido em “Fantasmas”.
Algum tempo atrás li uma matéria que dizia que Dean Koontz sempre buscou ser como Stephen King, mas foi manchado principalmente por adaptações cinematográficas desastrosas de seus livros (além de “Fantasmas”, existem diversos outros filmes dos livros do autor, como “A Semente do Diabo”, “O Limite do Terror” e “O Esconderijo”). Mas a única coisa que vejo em comum entre os dois autores é o gênero de escrita, pois enquanto um sabe desenvolver suas histórias de forma brilhante, o outro apenas sabe inicia-las. Acho que nem preciso dizer quem é quem.