Dudu Menezes 06/03/2024
Ótimo livro!
Nasce um menino no município de Quatro Irmãos, no Rio Grande do Sul. Filho de pais judeus, Guedali veio ao mundo, já em solo gaúcho, como muitas outras crianças judias, cujas famílias emigraram, da Rússia, fugindo dos pogroms dos cossacos russos contra os judeus, no final do século XIX e início do século XX.
Esses ataques violentos provocaram uma emigração, em massa, dos judeus russos para as Américas e para a Europa Ocidental, sendo que a família Tartakovsky escolhe o interior gaúcho para tentar uma nova vida. Nesta terra, vivendo em moradas humildes, dedicaram-se à atividade agrícola, longe dos abusos sofridos nas aldeias que haviam deixado para trás.
E é justamente neste novo cenário, em uma terra que prometia um futuro melhor para os filhos desta gente humilde e trabalhadora, que nasce Guedali - metade menino e metade cavalo. Sim! Um centauro! De início, a espantosa criatura gera uma reação imediata de rejeição. A mãe tem depressão pós-parto, os irmãos ficam assustados, o pai não sabe o que fazer diante da anomalia.
No entanto, o tempo vai acomodando tudo e a família acolhe este "ser mitológico"; mesmo que ainda com a resistência do irmão, Bernardo, enciumado com o tratamento especial dispensado ao novo membro da família. Membro, este, que terá de lidar com todos os desafios da infância e da adolescência, num corpo que é diferente dos outros, ficando recluso em casa e sobrevivendo do afeto das irmãs e dos pais, além do amparo que encontra na música e nos livros.
O Centauro no Jardim, de Moacyr Scliar, é uma obra prima da literatura nacional. Esta edição saiu, recentemente, pela @companhiadasletras e tem uma capa belíssima, em que vemos o Centauro galopar na direção da sua liberdade, como a sair do livro.
O autor desafia os limites entre a realidade e a ficção, provocando o leitor a tirar as suas próprias conclusões sobre essa metamorfose que é viver. Lendo o livro pensei em Gregor Samsa, personagem de A Metamorfose, de Kafka, e me senti imerso no universo mágico construído por Gabriel García Márquez, devido ao realismo mágico. Mas não é só isso...
Galopar para onde, quando as diferenças nos limitam?