Elinara 11/02/2021
As meninas, pra onde elas vão?
Lião, Lena e Aninha, as meninas, que num curto espaço de tempo narrativo, tomam conta do leitor de forma abundante. #EuLi "As meninas", de Lygia Fagundes Telles e estou completamente absorvida por esse texto.
Poderia falar sobre a uma história e seus 4 ou 5 narradores, que se misturam e levam o leitor a pular de um pensamento para outro. Fluxo de pensamento? Temos e muito. Um narrador, onisciente-onipresente, mas nem tanto, funciona como um apresentador de programa, conduzindo cada uma das meninas em suas narrativas e pensamentos. Quem já viu (ou jogou) uma partida de pingue-pongue? Um jogo para o outro, que bate para o outro e, assim, o texto (a bolinha) vai crescendo e se intensificando. Qual jogada virá? Cada narrador sabe somente da sua.
Poderia falar sobre o livro ser um retrato de seu tempo: 1973. Ditadura militar, profundas mudanças sociais, uso de drogas, liberdade sexual, militância, tudo está ali transformando o ser e o estar de cada um, como a filosofia de Lena.
Poderia falar sobre mulheres e suas questões: sexo, amor, solidão, medo, violência, padrões de beleza, envelhecimento? A mulheres são a maioria das personagens. Além de Lorena (Lena), Lia (Lião) e Ana Clara (Aninha), temos as freiras do pensionato, a mãezinha de Lorena, a mãe de Ana, Madre Alix e, até, uma gata perto de parir. Todas trazem suas dores, realidades e histórias de forma pulsante, causando, dessa forma, alguma identificação na(o) leitora(or). Mas, não se enganem, não é um livro de "mulherzinhas".
Como uma colcha de retalhos, após ler "As Meninas", o leitor pode escolher quais pedaços usar e montar seu desenho. Um coisa é certa, a (re)leitura deste livro de Lygia Fagundes permite a tecedura de colchas diversas.