Gabryella27 23/02/2023
"A memória tem um olfato memorável."
As meninas é o meu primeiro contato com a escrita da Lygia e que escrita lascinante, sensível, inefável. Lygia consegue nos passar tanto sentimento por meio da sua maneira de escreve, esse fluxo de consciência te prende toda história pela vida dessas três meninas com realidades completamente diferentes mas que acabam se completando.
Elas contam suas vidas na 1º pessoa do singular, com o intuito de faze-las contarem as próprias histórias, delimitada pelo modo que cada um vê e sente aquilo que narra. No decorrer do romance as narradoras-protagonistas criam formas diferentes de autoconhecimento na intenção de lidarem com situações reais por meio de um jogo de perguntas e respostas que se estruturam quase como diálogos consigo mesmas e também interagindo com o interlocutor.
Lorena Vaz Leme: Lena tem a constante necessidade de expressar aquilo que sente/pensa conversando consigo mesma ou por meio de diálogos impossibilitados, com a mãe ausente, com uma amiga que esta constantemente bêbada e drogada ou irmão que sempre está viajando. Ela amplia os fatos de sua vida para que os mesmos sejam heroicos e tenta resolver seus problemas com soluções que não passam de imaginárias mas ela já não vê suas próprias fantasias como imaginárias, mas sim como fatos reais. Lorena busca alienar-se de parte de sua realidade.
Lia de Melo Shultz: Lião é uma militante da esquerda revolucionária que lutou contra ditadura civil militar, não se moldava a certos valores da sociedade patriarcal como, a passividade feminina. Lia, nos narra os horrores que se passaram nesse período, a brutalidade do regime, o autoritarismo, seções de torturas e mortes de seus amigos.
Ana Clara Conceição: Ana teve uma infância muito conturbada, cheia de abusos e traumas, é filha de uma prostituta e não conhece seu pai. No decorrer de sua vida criou uma grande dependência em drogas e álcool, afim de fugir de si mesma, das suas memórias e a angústia presente, fazia de tudo para não estar sóbria e sozinha com a própria mente que a torturava constantemente. Acredita que o dinheiro seria a cura de todo esse inferno que passa e passou durante toda vida e Ana é uma personagem extremamente preconceituosa, principalmente com a população negra.