Rita 17/04/2021
Eternas meninas
Para ler esse livro, é necessário passar a barreira do estranhamento que a narrativa impõe, o "fluxo de consciência". O leitor enxerga a estória pela percepção das três personagens, por isso a persistência para não desistir da leitura, que a medida que avança, vai se tornando cada vez mais envolvente e interessante. As três "meninas" - Lorena, Lia e Ana Clara - são amigas e universitárias em tempos sombrios da década de setenta no Brasil. Por serem jovens, pressupõe-se que as três poderiam ter um futuro promissor, mas se o tempo presente lhes é complicado e o passado se mostrou cheio de traumas e infelicidades o que esperar então do futuro? A uma delas não caberia essa promessa...
Esse romance é o primeiro de sua época a relatar uma cena de tortura durante a ditadura militar brasileira; é um dos que apresentam personagens femininas com opiniões distintas e sob o ponto de vista de uma escritora; é um romance que passeia pelas diferentes classes sociais e mostra como isso influencia o modo de enxergar e de estar no mundo.
As últimas páginas envolvem o leitor de uma tal forma que parece que o romance chegou, não ao fim, mas ao seu clímax. "A estória acaba assim?" pergunta o leitor inconformado... e surge aquele momento de reflexão, no qual a estória, de trás pra frente, passa pela sua mente e detalhes que antes passaram despercebidos, agora, fazem sentido. Embora fossem adultas, os contextos social e histórico não permitiam que as personagens pudessem crescer e se libertar para viverem plenamente, por isso, faz sentido pra mim, o título "as meninas". É um romance que deixou marcas permanentes na memória.