spoiler visualizarLorena831 09/05/2024
"Não sou um pássaro, e não há rede que me prenda.
Sou um ser humano livre, com vontade própria."
ALERTA PARA UMA RESENHA ENORME E COM MUITAS CITAÇÕES PORQUE ME EMPOGUEI KKKKKKK
Eu terminei de ler A Inquilina de Wildfell Hall a pouco tempo, fiquei imersa na ambientação e queria ler algo no mesmo estilo, também vi o react de uma moça lendo Jane Eyre e não aguentei tive que ler também, no caso, seria reler porque eu já tinha lido esse livro no ano passado e embora eu já tenha gostado bastante do livro na primeira vez, agora eu o amo muito mais!!! Acho que não soube apreciar a obra muito bem da primeira vez, lembro que tinha achado um pouco parada e demorei uns dois meses pra ler, não consigo pensar dessa forma agora sendo que acontecem coisas com a Jane o tempo todo e quando não, ela está fazendo reflexões interessantíssimas.... resumindo, agora percebi várias coisas que não tinha percebido e não tive escolha se não favoritar o livro.
Jane Eyre se tornou uma das minhas personagens favoritas da vida! Se eu tivesse que resumir a personalidade dela em poucas linhas diria que a Jane é muito leal as pessoas que ela ama e aos seus princípios... ela não deixava seus princípios de lado por nada e as únicas mudanças que percebi no caráter dela são pra melhor. Ela também é autossuficiente, então embora goste de ter companhia, ela não se submete a maltratos ou a situações que ela considera violar algum valor para não ficar sozinha, ela estabelece limites que considera adequados e não deixa que sejam ultrapassados.
"Posso viver sozinha, se o amor-próprio e as circunstâncias exigirem isso de mim. Não preciso vender minha alma para comprar felicidade e paz de espírito. Possuo um tesouro interior que nasceu comigo e que é perfeitamente capaz de me manter viva se todas as alegrias externas me forem negadas, ou oferecidas a um preço que eu não possa ou não concorde em pagar." A testa declara: "A razão permanece firme e no controle e não permitirá que os sentimentos a façam explodir e aproximar-se de precipicios. As paixões podem rugir furiosamente, como forças pagas, e os desejos podem imaginar toda sorte de coisas v?s. Mas o discernimento continuará tendo a palavra final em cada argumento e o voto decisivo em cada escolha. Vendavais, terremotos e incêndios podem acontecer, mas eu sempre seguirei aquela vozinha que interpreta os ditames da consciência".
Ela sofreu muito nas mãos da tia e dos primos e pra piorar, quando ela teve uma chance de recomeçar em um lugar novo, ela foi caluniada. Mas achei incrível como mesmo depois de tudo o que ela passou não se tornou uma pessoa amarga, mas sim, grata e perdoadora... ela sempre procurava motivos para sentir gratidão e ser feliz e além de ir visitar a tia que a maltratou muito, continuava falando que não gostava dela e era insuportável mesmo quando doente, ela a perdoou e ainda ajudou as primas após a morte dela. Muito disso, na minha opinião, se deve a Helen Burns, uma amiga dela que tinha uma atitude tão diferente da sua que pode ensinar muitas coisas a ela, principalmente a como lidar melhor com os problemas... a Jane era muito decidida e tinha um humor ácido desde criança, mas acho que a Helen ensinou ela a lidar com as coisas de uma forma que a atingisse menos e que quando atingisse não fosse uma coisa que machucasse tanto ou por tanto tempo. A Helen era uma personagem única e eu fiquei muito triste quando ela morreu, porque mesmo que ela tenha aparecido em umas 60 páginas no máximo, a Charlotte escreveu de uma forma que fez com que eu me apegasse muito a essa personagem, que marcou a Jane de uma forma tão positiva.
"Mesmo que o mundo inteiro a odeie e a julgue má, enquanto sua consciência estiver tranquila e isentá-la de culpa, você nunca ficará sem amigos."
Mas voltando a falar sobre a Jane, já disse que ela é uma personagem muito leal a seus princípios e nesse sentido, gostei muito que ela não queria perder sua essência apenas porque ia se casar com o sr. Rochester e que quando ela descobriu as circunstâncias que envolviam tal matrimônio, ela não ignorou tudo o que sua consciência dizia apenas porque seria mais fácil e era o que seu coração mandava...
Sobre o sr. Rochester tenho que dizer que mesmo sabendo que no final ele é uma boa pessoa, eu ainda achei ele uma pessoa difícil de se interpretar... era difícil entender quais eram suas intenções e se ele estava falando sério ou brincando, mas as conversas dele com a Jane eram perfeitas, eu sempre dava muita risada da sinceridade dela e da surpresa dele com as respostas kkkkkk. Também gostei de como ele confiava na Jane para lidar com vários problemas de Thornfield Hall, mas fiquei com raiva que ele não contou pra ela o maior segredo, Bertha Mason... Eu acredito na história que ele contou e sinto compaixão por ele, mas ele não podia simplesmente arrastar a Jane pra essa situação sem falar nada pra ela. Pelo menos no final ele percebeu seu erro e devido a sua situação também se tornou uma pessoa menos orgulhosa.
O final que Jane teve foi lindo em todos os sentidos... fiquei muito feliz que ela encontrou uma família que gosta dela e que tem as mesmas afinidades que ela tem, a Diana e a Mary se tornaram como irmãs e eu não tenho palavras pra descrever como foi incrível ver isso, a única exceção é o st. John, que é um fanático e que fez uma proposta ridícula, ainda bem que ela não aceitou. A Jane também tomou uma atitude que apreciei muito quando ela dividiu a herança entre os primos. Entretanto, aquela parte em que ela chega em Thornfield Hall e vê as cinzas foi angustiante, embora a analogia usada pra descrever a reação dela tenha sido incrível. Esses capítulos finais foram muito emocionantes, eu fiquei com muita dó do sr. Rochester, mas depois quando ela o reencontra foi perfeito, também foi muito bonitinho ela falando que não seria sacrifício nenhum ter que cuidar dele por causa das sequelas do incêndio. O último capítulo também foi lindo, fiquei muito feliz em ver a felicidade deles e a cena em que o sr. Rochester começa a recuperar a visão foi linda, principalmente porque ele pode ver o filho. Também gostei que a Jane contou o paradeiro dos personagens mais importantes porque eu sou uma pessoa curiosa kkkkk
"- Jane, quer se casar comigo?
- Sim, senhor.
- Um pobre homem cego, que você terá de conduzir pela mão?
- Sim.
- Um homem deficiente, vinte anos mais velho que você, que você terá de ajudar no dia a dia?
- Sim.
- Mesmo, Jane?
- Mesmo."
Sobre a ambientação do livro, eu amei... tem uma vibe mais sombria, misteriosa e melancólica que eu gosto muito. Achei muito legal que mesmo não dando medo, o tempo todo eu sentia que tinha alguma coisa errada ou logo alguma coisa ruim aconteceria, então eu sempre via momentos felizes como a calmaria antes da tempestade. Nesse sentido, lembro que fiquei surpresa da primeira vez que li que o livro também tinha um certo suspense e mistério e agora pude perceber vários sinais do plot que eu não tinha notado antes. A Charlotte deu pistas desde o início sobre a possibilidade da Jane se tornar herdeira por parte de um tio da ilha da madeira e quando o st. John mencionou a morte do tio e sua irmã explicou a situação tudo se encaixou perfeitamente. Mas o principal mistério é o motivo de coisas estranhas acontecerem em Thornfield Hall e sobre isso o sr. Rochester faz comentários em vários momentos que não ficam claros pra Jane, mas ele fala sobre ter medo de ser exposto, além disso a parte em que ele não deixa a Jane falar com o sr. Mason foi bem estranha... Acho que já deu pra entender que eu gostei muito desses mistérios de plano de fundo kkkk
Pra finalizar, a escrita da Charlotte Brontë é linda e poética. Uma coisa que eu gostei bastante é que o livro é contado como se fosse uma autobiografia, por isso quando a Jane está contando a história já faz bastante tempo e ela já tem uma visão mais madura da situação, então ela consegue tirar lições que na época não tinha percebido, e como ela fala em diversos momentos com o leitor isso a aproximou muito de mim.
Depois de falar tudo isso, é claro que eu recomendo a leitura desse livro... não tenho absolutamente nada para reclamar dessa obra prima!!!
Obs:. Tinham alguns trechos que eu não podia deixar de fora da resenha, mas não consegui distribuir no decorrer dela então vou colocar aqui no final...
"A vida me parece curta demais para ser gasta nutrindo animosidades e remoendo erros."
"- Às vezes eu tenho uma sensação estranha com relação a você, especialmente quando você está perto de mim, como agora... É como se houvesse um cordão entre as minhas costelas do lado esquerdo, fortemente amarrado a outro semelhante situado no quadrante correspondente do seu corpo. E, se aquele canal de águas turbulentas e mais de trezentos quilômetros de distância nos separarem, receio que esse cordão de comunicação se rompa. E, se isso acontecer, tenho uma noção nervosa de que sangrarei por dentro. Quanto a você... iria me esquecer.
- Isso nunca aconteceria, senhor. O senhor sabe... Não consegui continuar."
"Acha que sou um automato? Uma máquina sem sentimentos? Que posso suportar que meu pedaço de pão seja arrancado dos meus lábios e minha gota de água vital seja derramada do meu copo? Acha que, porque sou pobre, anónima, simples e insignificante, não tenho alma nem coração? Está enganado! Como o senhor, tenho alma e tenho coração! E, se Deus tivesse me dotado de beleza e fortuna, eu faria com que fosse tão difícil para o senhor deixar-me como está sendo dificil deixá-lo agora. Não estou lhe falando por meio de costumes, de convencionalidades, nem mesmo da carne mortal. É o meu espírito que fala ao seu, como se nós dois tivéssemos passado pelo túmulo e estivéssemos aos pés de Deus, iguais... como somos!"
"Eu me importo comigo mesma. Quanto mais solitária, mais desamparada e sem amigos eu for, mais eu me respeitarei. Obedecerei à lei de Deus e sancionada pelo homem. Manterei os princípios que aprendi e que não são para ser seguidos somente em tempos em que tudo corre bem, quando não existe tentação. São justamente para momentos como este, quando corpo e alma se insurgem contra o rigor desses principios. Eles são rigorosos e devem ser invioláveis. Se por alguma conveniência individual minha eu os violar, que valor eles terão? Eles têm um valor, nisso eu sempre acreditei, e, se eu deixar de acreditar, é porque minha mente não está sã, o sangue borbulha em minhas veias, e meu coração palpita tão rápido que mal consigo contar sua pulsação. Opiniões preconcebidas, determinações que deixaram de ser respeitadas por muitos, mas é tudo o que eu tenho neste momento em que me apegar"
"A cada dia eu desejava agradá-lo mais; no entanto, eu sentia que, para isso, teria de contrariar a minha natureza, tolher minhas capacidades, moldar meus gostos originais, forçar-me a fazer coisas para as quais eu não tinha uma inclinação natural. Ele queria me elevar a um nível que eu não conseguia nem almejava alcançar. Era um tormento para mim fazer o esforço exigido para me aperfeiçoar ao padrão que ele esperava e tão inútil quanto seria querer corrigir minhas feições irregulares para que ficassem perfeitas e clássicas como as dele, ou querer transformar meus olhos verdes com matizes mutáveis nos solenemente azuis dele."