spoiler visualizarNathalia 10/04/2024
I've think i've seen this film before...
De uma maneira muito inesperada eu li esse livro em ingles e bem rápido no meio da semana de fechamento do bimestre e não sei o que isso quer dizer sobre meu comprometimento com o meu trabalho.
Eu assisti o filme de Jane Eyre provavelmente em 2014 quando eu assinei a netflix e aqui está o que eu lembrava da história: 1. era muito boa, 2. de alguma forma eu confundia o que aconteceu aqui com o que acontecia em Rebecca (de Maurier/Hitchcock), por que os dois tinham uma vibe parecida. Acredito que eu tenho comprado o livro nessa época também, mas nunca li, porque afinal comprar livros e ler livros são dois hobbies completamente diferentes, como diria Jack Edwards.
Até que semana passada eu tava vendo um video da Leonie (do The Book Leo), que é uma booktuber que eu gosto, mas cujo o gosto para leitura é MUITO diferente do meu, onde ela coloca esse livro como um dos favoritos de todos os tempos dela e eu fiquei intrigada. Resolvi tirar o livro da estante e botar a prova.
Durante o livro inteiro eu fiquei com uma sensação de “i’ve think i’ve seen this film before” mas eu não sabia se era por conta do próprio filme desse filme que eu já tinha assistido, mas já tá apagado da minha memória ou se eram de outros filmes e livros e acho que esse é o principal elogio a ser feito ao livro: ele é o blueprint de como fazer romance. Romance puro de casalzinho e tudo mais. E sim, eu sei que a Jane Austen veio antes (e ao meu ver faz livros mais completos - perdão dona Brontë, eu sei que só li esse livro e não tenho direito nenhum de falar isso, mas é o que eu acho), mas a Charlotte Brontë é muito mais dramática e muito mais romântica (no sentido do Romantismo, eu quero dizer). Basicamente, o que eu quero dizer é: se fosse hoje em dia a Jane Austen ia escrever romances mais leves com um toque de comédia e muitos comentários discretos sobre classes sociais, enquanto a Charlotte Bronte ia escrever uns calhamaços tristes e pesados e dramáticos. E sim, Reader, você tem todo o direito de discordar :) (esse negócio de reader me lembrou automaticamente me lembrou de Bridgerton e tive que segurar o impulso pra não ler aquilo de novo).
A verdade é (tô falando pouco demais sobre o livro em si) eu adorei o romance, o banter foi delicioso, o jeito que eles se apaixonam, depois como ele conta pela visão dele como ele se apaixona, beijinho pra cá, caminhada pelo pomar, discretamente soltando no ar sinais de que está interessado, fazendo ciúmes com a Dona Blanche lá (isso aqui é demais pro meu coraçãozinho), beijinho pra lá, senta no meu joelho, tô usando seu colar desde que você se foi, ai ai. Gente se fosse só pelo romance isso daqui era 5 estrelas e favoritado. Imaginem o potencial que esse filme teria se tivessem pego o Alan Rickman de 40 anos pra fazer? Ia ser tão bom quando o Razão e Sensibilidade do Ang Lee, meus caros.
Mas tem muuuuito mais do que isso no livro e foi isso que me cansou na verdade. Eu não precisava de tanto detalhe da infância dela, nem da relação dela com o St. John e as primas. Me tirou um pouco da história e eu me peguei revirando as paginas pra contar quantas páginas faltavam pro Mr. Rochester aparecer de novo.
No fim, acho que o que me levava pro lado de Rebecca era o incêndio e a morte de uma mulher no incêndio (além de uma treta relacionada à primeira esposa), mesmo que nos livros isso seja bem diferente. Também percebi que o fato dele se machucar e por mais que a morte da Bertha o deixasse livre pra Jane ele ter se tornado recluso por conta de uma deficiência me lembrou MUUUUITO An Affair to Remember, que é meu filme puramente de romance favorito (na hora que eu percebi isso foi como se eu tivesse desvendado o maior mistério do mundo).
É um bom livro, mas acho que não tem a “rereadability” dos clássicos da Jane Austen.
*Já tava indo publicar a resenha mas daí lembrei de mais algumas críticas que eu tive ao livro.
A Charlotte Brontë é extremamente eurocentrista ou, ainda pior, ela é anglocentrista porque até dos países da Inglaterra ela desgosta, não perde oportunidade de dizer como o trabalho dela com a Adele é de anglicizar a garota e fala com desdém das amantes italiana, francesa e alemã do Rochester, enquanto põe o Rochester num pedestal, ela se recusa a ir pra Índia, inclusive fala como ir pra Índia vai levar o St. John a morte. Mais uma vez (e desculpa ficar comparando ela à Jane Austen), mas a Austen consegue criticar a sociedade onde vive e apontar o que há de errado em seus costumes, o que a Charlottë não consegue. Talvez seja um rolê religioso, que também aparece bastante na história, já que o pai dela era clérigo e se eu não me engano o marido dela também.
O tratamento da Bertha Mason é inumano (agora tô repensando aquela hora que eu falei como se fosse só pelo romance eu daria 5 estrelas e favoritaria). Vi que existe um livro que explora o ponto de vista dela e fiquei muito interessada pra ler. Nesse sentido (hoje eu tô que tô com as comparações galera, mil perdões, é mais forte que eu), Rebecca (o filme e não o livro nesse caso), consegue fazer para mim um interesse amoroso muito menos errado e culpado do que Jane Eyre (ai eu vou deixar por aqui porque do que vai me adiantar lutar por um tratamento mais justo de questões mentais num livro de quase 200 anos?)