Juju 10/03/2024
Uma patricinha bondosa
Emma Woodhouse é uma jovem bela, refinada, inteligente e muitíssimo abastada. Portanto, diferentemente de outras damas de sua época, o matrimônio não é uma preocupação real para ela. Na verdade, Emma Woodhouse jurou nunca se casar, muito em prol de seu pai enfermo e solitário, mas também porque ela sequer de fato cogitou a possibilidade de se apaixonar perdidamente por alguém. Assim, o passatempo de Emma é tomar conta de Hartfield - sua residência suntuosa e repleta de confortos luxuosos - e se inteirar das inúmeras fofocas em Highbury. Ocasionalmente ela também gostar de bancar a casamenteira, unindo pares que em sua mente tão intelectual e superior, seriam realmente perfeitos. E seu novo alvo parece ser a Srta. Harriet Smith, uma humilde mocinha cujas origens são completamente desconhecidas e cuja simpatia, doçura e bondade cativam e estimulam Emma Woodhouse a mantê-la sempre por perto. No entanto, em sua inocência frivolidade, a Srta. Woodhouse toma uma série de decisões equivocadas que se baseiam meramente em fantasias e esperanças vazias, guiando a nova companheira em uma direção pouco fortuita e alimentando discussões acaloradas com seu amigo mais antigo e fiel, o Sr. Knightley. Em meio a uma jornada divertida e repleta de aventuras escandalosas durante o século XIX, acompanhamos então a jovem Emma Woodhouse que aos poucos aprende a ser mais empática, mais sincera e humilde, reconhecendo suas falhas e defeitos, sem perder de vista seu bom coração e os sentimentos afetuosos que nutre por todos aqueles que igualmente a estimam. E talvez então, Emma finalmente se veja disposta a entregar este mesmo coração bondoso à pessoa certa.
Eu adoro os romances de Jane Austen! Orgulho e Preconceito e Emma são particularmente os meus favoritos, as adaptações para as telas também são igualmente satisfatórias. Eu acredito que o grande charme e o apelo de Emma é justamente sua personagem principal que é repleta de falhas e defeitos que a princípio parecem condenáveis, porém, conforme a conhecemos melhor ainda nas primeiras páginas, fica comprovado que é impossível odiar Emma Woodhouse. Sim, ela é um tanto esnobe, soa egoísta em vários momentos e tende a priorizar os próprios pensamentos ao invés de escutar os dos outros, mas sobretudo a Srta. Woodhouse é extremamente humana e se erra, em muitos casos, devemos considerar suas boas intenções advindas de um coração nobre e compassivo. Sua desavença com Jane Fairfax é sem dúvidas um dos pontos mais cômicos do romance e acredito que a tal aversão advém do fato de que Jane é ao mesmo tempo muito parecida, mas também muito diferente de Emma. E ela simplesmente não consegue compreender a timidez, o jeito reservado e discreto da Srta. Fairfax que será muito bem elucidado ao final dessa obra. Em suma, é muito legal observar as críticas mordazes e afiadas que a autora tece acerca da cultura inglesa e à sociedade de sua época através das diferentes figuras excêntricas que compõem o círculo social de Emma. Ainda assim, ela é capaz de construir laços fortes, valiosos e verdadeiros, estando cercada de amigos fiéis e amorosos. O mais legal, no entanto, é justamente observar a evolução de Emma Woodhouse como mulher, amiga e filha, até que ela finalmente esteja pronta e madura o suficiente para desempenhar o papel de uma esposa feliz e satisfeita. O Sr. Knightley é também um pretendente muito agradável, sensato e astuto, apenas gostaria que houvessem mais cenas e linhas dedicadas à relação amorosa entre os dois que acaba ficando em segundo plano. Apesar de mais de 500 páginas, esse não é um romance cansativo e posso dizer que minha experiência foi extremamente positiva.
Um destaque para essa edição linda e super completa da editora Antofágica que se dedica a embelezar e trazer mais conhecimento acerca dos clássicos que tanto amamos. As ilustrações são de muito bom gosto, sendo elas bastante belas, sofisticadas e elegantes.