letscia 22/03/2024
45 (2024) e a mulher, adorável mulher, reina sozinha.
"Se havia uma cura a ser encontrada, seria onde o ferimento fora desferido - e Emma sentiu que, até vê-la a caminho da cura, não encontraria paz verdadeira para si."
Devo começar afirmando que Emma desapontou um pouco as minhas expectativas. A escrita de Jane Austen é encantadora, embora, em momentos de descrições prolixas e discursos distantes do tema central, eu tenda a me desconectar da leitura. Nesta obra, Austen pareceu mais direta, tornando as divagações não apenas agradáveis mas também ricas em histórias, dramas e reflexões sociais. Foi uma leitura realmente prazerosa. Contudo, devo admitir que a protagonista não me conquistou. Iniciei a leitura com a convicção de que adoraria Emma e sua postura desinibida, mas, apesar de meus esforços, não consegui me afeiçoar a ela. Esperava por uma mulher sagaz, mas ela se mostrou alheia a detalhes que saltavam aos olhos de todos, quase durante toda a narrativa. Sou capaz de me afeiçoar por uma personagem mimada, mas ignorante não. Seus atos benevolentes tinham motivações pobres, e sua mesquinhez ao avaliar as pessoas pelo rendimento foi lamentável. Não posso desconsiderar o meio em que Emma estava inserida, é claro, mas ainda assim foi frustrante. Harriet, por sua vez, mostrou-se insípida, ao ponto de até uma porta possuir mais personalidade e appeal do que ela, embora tenha recobrado o juízo ao final do livro.
No entanto, entre os vários pontos positivos, destaco a ambientação e as diversas tramas. Os conflitos familiares e amorosos conferiram à obra um tom intimista, como se o leitor estivesse espiando a vida de várias famílias, suavizando as tensões.
Emma não é uma personagem de todo ruim. Diria que é sem defeitos, apesar de todos os defeitos. Estaria sendo injusta ao não reconhecer a riqueza de uma personagem tão determinada e ousada, que, apesar de seu egocentrismo, em muitos momentos, estava genuinamente tentando ajudar sua amiga - por mais que esta não precisasse do tipo de ajuda que ela assumia. Existe algo muito belo na criação de uma personagem que é tão humana e defeituosa a ponto de tantas pessoas simpatizarem com ela, e com isso, concordo completamente com a apresentação que Sophia escreveu. Evito ser anacrônica ao analisar uma obra escrita em 1815, reconhecendo em Emma uma personagem à frente de seu tempo, por introduzir falas que defendiam a escolha de uma mulher acerca de seu destino, ainda que não fosse uma realidade geral da mulher naquela época. Uma escolha que, afinal de contas, pode ser o matrimônio também, coisa que ela foi corajosa o suficiente para reavaliar. Emma era uma romântica enrustida, afinal.
Sr. Knightley, por sua vez, destacou-se como o personagem mais autêntico e encantador. Seus posicionamentos, sempre pertinentes, agradaram-me profundamente. A diferença de idade entre ele e Emma, embora promovesse um abismo ideológico, teve um desfecho satisfatório para ambos.
Quanto à conclusão, senti que foi abrupta, contrastando com o ritmo pausado do restante do romance. Ainda assim, isso não diminuiu minha apreciação pela obra, sendo um alívio ver a resolução dos conflitos anteriores.
Em resumo, foi uma leitura marcante. Jane Austen explorou temas tão atuais que, por vezes, me esquecia de estar diante de um clássico da literatura. Entre todas as suas obras, Emma era a que mais estava entusiasmada em ler, e talvez a única (adoro descrições enormes, mas as de Austen nunca me cativaram muito, exceto desta vez) e, embora tenha me decepcionado em alguns aspectos, jamais negaria a excelência do romance, e consequentemente, da autora ao escrever.