Ana Cristina 29/05/2016As soluções mais improváveis para os crimes mais bizarros.Agatha Christie é a autora que mais se repete na minha estante. Isso porque suas histórias prendem o leitor sem, no entanto, cansá-lo da leitura, mas deixando-o ansioso por mais. Eu sempre procuro Agatha quando preciso relaxar literariamente, quando quero algo rápido de ler, interessante e que possa me distrair, leituras de entretenimento. Dos livros da Agatha não vou tirar grandes lições de vida ou reflexões muito aprofundadas, mas irei me divertir com seus personagens caricatos e me surpreender com as soluções mais improváveis para os crimes mais bizarros.
“Assassinato no Beco” é o título do primeiro dos quatro contos que compõe essa publicação. Todas histórias ilustradas pelo mais famoso detetive de Christe, o belga presunçoso Hercule Poirot. Falarei brevemente sobre as quatro histórias separadamente, sem (é claro) dar muitos detalhes da trama, mas comentando minha satisfação na elaboração e resolução que a autora deu a esses crimes.
Lembrem-se, lembrem-se,
do 5 de novembro,
pólvora e conspiração.
Não há razão
para jamais esquecermos
uma grande traição.
“Assassinato no Beco” já começa em clima revolucionário e perfeito para um suicídio mal explicado: as comemorações de cinco de novembro. Em meio aos fogos de artificio ninguém ouve o tiro que mata Bárbara Allen e configura um suposto suicídio cheio de incongruências. Até aqui nenhuma novidade, é muito comum que os suicídios em romances policiais acabem não sendo suicídios, mas a resolução que Christie dá para essa história é magnifico, compensando de maneira extraordinária esse pequeno clichê literário. E o contexto (5 de novembro) faz o leitor refletir uma relação muito interessante entre o desfecho e a representatividade da data, certamente Agatha soube bem onde ambientar sua história.
“Será Mr. Carlile tão inocente quanto Lord Mayfield acredita? Lord Mayfield o considera acima de qualquer suspeita. Por que tanta certeza? Por que no fundo desconfia de seu secretário e sente-se envergonhado por isso? Ou por que tem suspeitas fortes sobre uma outra pessoa? Uma outra pessoa que não seja Mrs. Vanderlyn?”
“O roubo inacreditável” é o que eu chamo um clássico de Agatha Christie: um crime cometido de forma muito clara, com apenas uma solução possível, um culpado evidente, porém...nosso detetive belga favorito consegue firmar uma explicação convincente sobre outra possibilidade que não passa pela mente do leitor comum (ou talvez eu seja uma péssima detetive). O tipo de história que se espera dessa autora, sem deixar de ser uma leitura apreciável.
“Miss Lingard, é horrível quando uma família orgulhosa de sua história se vê subitamente confrontada com uma desonra. Se bem que a vinda de Monsieur Poirot já não adianta de nada. É tarde demais.”
“O espelho do morto”, por outro lado, foi a primeira história de Agatha em que achei uma explicação forçada demais para as deduções de Poirot. Outro suicídio estranho envolvendo um personagem que nunca de suicidaria (a psicologia simplesmente não condiz) e um grupo de personagens bem “interessantes”. A resolução de Poirot tem um único ponto que achei um pouco forçado, mas no geral trás uma explicação interessante e até surpreendente para o caso e por todas os desfechos magníficos que a autora me apresentou antes esse pequeno lapso é facilmente perdoado, além disso, é literatura de entretenimento não ciências exatas (felizmente!).
“- O triângulo está cada vez mais complicado. Ontem à noite, eles se sentaram um de cada lado dela...e o senhor precisava ver os olhares que um dirigia ao outro. O que o senhor acha que vai acontecer?
-Estou com receio...estou com receio...”
“Triângulo de Rhodes” é uma história bem diferente do que já li da autora e me apresentou de modo mais explicito a análise de Poirot sobre as condutas humanas. O cenário é uma belíssima praia e um triangulo amoroso que acaba, obviamente, em tragédia antecipada pelo detetive. O que interessa aqui é como a autora nos leva a visualizar uma imagem muito clara dos acontecimentos e prever o desfecho e, no fim, nos mostra como estávamos errados e interpretando a natureza humana precipitadamente. Chega a ser um exercício interessante sobre o julgamento que fazemos das pessoas de modo tão simplório.
Do título: no geral, os títulos de Agatha Christie não são os mais criativos e incríveis da literatura e isso se repete nessa pequena coletânea. Não chegam a ser ruins, mas também não há elogios a serem feitos, eles simplesmente servem às suas respectivas histórias.
=)