Jaqueline 26/06/2011“Anna e o Beijo Francês”, lançado no Brasil pela editora Novo Conceito, conta a história de Anna Oliphant, uma jovem americana de 17 anos que, por obrigação de seu pai, vai estudar em um internato em Paris, a Cidade Luz. Grande oportunidade? Não para Anna! Relutante em abandonar seu trabalho em um cinema na sua cidade natal, Atlanta, sua melhor amiga, Bridge, e seu possível futuro namorado, Toph, ela encara sua mudança para a França com receio. Sem saber falar uma palavra sequer do idioma local, deprimida com seu futuro em um país estrangeiro e morrendo de raiva de seu pai, um escritor de livros best sellers de quinta categoria, ela chega ao seu novo colégio, a School of America, criada apenas para alunos americanos. E é lá, caros amigos, que ela conhece o lindo, carismático, inteligente, perfeito....Étienne St. Clair, o garoto mais popular e irresistível da escola! O problema? Ele tem namorada.
O livro é muito mais juvenil do que acreditava ser, acompanhando a verdadeira roleta-russa emocional da adolescência. O que começa com uma premissa muito legal sobre descoberta e adaptação, porém, acaba se tornando extremamente arrastado quando Anna começa a pensar em St. Clair o tempo todo. Mesmo reconhecendo sua obsessão pelo agora amigo (“Garotos deixam garotas imbecis”), seu coração não consegue deixar de pular uma batida a cada vez que se encontra com ele, mesmo ainda pensando em Toph, um antigo colega de trabalho com quem havia trocado um beijo antes de sair dos Estados Unidos. O livro aborda estas emoções conflituosas de uma maneira muito doce e cativante, o que considerei o ponto alto da obra. Um detalhe, porém, me irritou além da conta: a perfeição de Étienne.
Em certo momento, Anna descreve St. Clair como “bonito, lindo, perfeito, maravilhoso”, tudo na mesma frase. Não sei se é pela quantidade exagerada de livros que tenho lido ultimamente e que apresentam esse mesmo de descrição de um tipo ideal de mocinho, mas com “Anna e o Beijo Francês” isso me aborreceu profundamente. Que a paixão deixa os nossos sentidos um pouco “bagunçados”, tudo bem, mas isso não justifica o interminável “blá blá blá” sobre a beleza física do protagonista. A impressão que eu tenho é que baniram todos os carinhas “normais” da literatura jovem contemporânea em troca de miniaturas de estátuas gregas anatomicamente perfeitas. Um tédio só!
A narrativa é leve e bastante simples, com frases verdadeiramente divertidas e sagazes por parte de Anna, a narradora da história. Porém, algumas complicações da tradução muitas vezes me deixaram confusa. Falas de St. Clair e Anna zombando dos sotaques um do outro ficaram sem pé nem cabeça, o que comprometeu o entendimento de várias piadinhas entre os dois. Ele, filho de uma americana e um francês, foi criado na Inglaterra (sotaque britânico = ponto para ele!), mas domina a língua francesa com perfeição. Anna, por outro lado, mal consegue pedir comida na nova cidade.
Os personagens são apresentados ao leitor de uma forma bem construída e instigante, mas a maioria acaba sendo bastante mal aproveitada ao longo do livro por conta da paixão de Anna por Étienne e por uma situação bem triste se impõe sobre a complicada família do nosso galã e acaba dominando a metade final do livro. Meredith, a vizinha de quarto de Anna, acaba se tornando uma grande companheira da nossa protagonista, mas possui um grande problema: também é apaixonada por Étienne. Josh, o melhor amigo de St. Clair, é talvez o personagem que mais me intrigou. Com uma personalidade divertida, mas bastante retraída, ele é um talentoso desenhista que teve sua trama totalmente deixada de lado – uma pena! Rashimi, a namorada de Josh, não chega a passar de mais uma integrante do grupo de amigos de Anna, coitada. Já Ellie, a namorada universitária de Étienne que também estudou na School of America, funciona apenas como antagonista de Anna.
Nosso casal protagonista vai se tornando cada vez mais amigo, e é graças aos passeios dos dois que conhecemos um pouco mais de Paris, cidade encantadora que é belamente descrita no livro. Anna é apaixonada pela sétima arte (ponto para ela!) e encontra nos inúmeros cinemas da cidade um refúgio para a confusão de seus sentimentos. Todos os filmes citados no livro (com seus nomes originais, o que soou bastante estranho quando muitos deles são bastante conhecidos no Brasil com seus títulos nacionais) são ótimos e merecem ser assistidos! “Anna e o Beijo Francês” é um livro divertido, sem grandes pretensões, sem grandes reviravoltas, mas que traz toda a emoção adolescente que mexe com nossas lembranças mais doces e apaixonantes – tudo isso acontecendo em Paris, uma das cidades mais românticas do mundo!
>> Resenha publicada em www.up-brasil.com