Lua 28/05/2023
Obra irônica, c/ sofismas, falsa dicotômica e superficial
O banqueiro é um verdadeiro sofista tentando convencer o seu amigo de que é sim possível ser anarquista e banqueiro.
E através da falsa dicotomia, todo o seu discurso se prolonga. Mostrando apenas uma situação com dois pontos, colocados como opção única, quando na verdade podem sim existir outras opções que não foram levadas em consideração ou simplesmente foram descartadas, restando apenas o que lhe é de interesse para defender seu ponto de vista. Como é no caso da "tirania do auxílio", ele descarta todas as outras possibilidades para ajudar alguém (como a solidariedade) e há apenas 2 opções: ajuda porque subjuga o outro ou porque o despreza. O que implica em tirania e tira a liberdade do outro, por isso ele nao o faz. Ou seja, encontrou uma forma de justificar e autenticar seu comportamento.
O banqueiro não quer ser solidário, não quer ajudar os outros, é um individualista. Era pobre, conseguiu ascender socialmente, e agr quer usufruir da sua "liberdade" alcançada pelo poder econômico, liberdade esta que ignora outros fatores sociológicos, como religião, família, estado etc que foram citados pelo mesmo como ficções sociais que se sobrepoem e estorvam as realidades naturais.
"Eu libertei-me a mim; fiz o meu dever simultaneamente pra comigo e para com a liberdade. Por que é que os outros, os meus camaradas, não fizeram o mesmo? Eu não os impedi. Esse é que teria sido o crime, se os tivesse impedido. Mas eu nem sequer os impedi ocultando-lhes o verdadeiro processo anarquista; logo que descobri o processo, disse-o claramente a todos. O próprio processo me impedia de fazer mais. Que mais podia fazer? Compeli-los a seguir o caminho? Mesmo que o pudesse fazer, não o faria, porque seria tirar-lhes a liberdade, e isso era contra os meus princípios anarquistas. Auxiliá-los? Também não podia ser, pela mesma razão. Eu nunca ajudei, nem ajudo, ninguém, porque isso, sendo diminuir a liberdade alheia, é também contra os meus princípios."
Logo em seguida ele fala sobre as "desigualdades naturais" e como essas nada têm a ver com o anarquismo. O seu grau de inteligência, ou a sua força de vontade tem a ver com a natureza, e não há modificação social que altere isso, como se a educação não fosse transformadora. Mais uma vez deixando de lado fatores sociológicos que influenciam e moldam a maneira de viver dos indivíduos e culpabilizando-os por sua condição. Ou seja, o conto acaba com essa idéia meritocrática de que é sim possível alcançar a "liberdade" se você for esperto o suficiente para isso.
Além disso, o banqueiro entende as instituições que mantém perpetuam a tirania quase como entidades místicas, que existem por si só e não como resultado daqueles que a criam e ocupam.
"Eu não criei tirania. A tirania, que pode ter resultado da minha ação de combate contra as ficções sociais, é uma tirania que não parte de mim, que portanto eu não criei; está nas ficções sociais, eu não ajuntei a elas. Essa tirania é a própria tirania das ficções sociais; e eu não podia, nem me propus, destruir as ficções sociais"
Esse conto é uma grande ironia, uma crítica a possibilidade da prática do anarquismo. E esse banqueiro é basicamente ancap.