@vaisetratarleitora 31/01/2024
Muito bom
Dando continuidade ao meu projeto pessoal de leitura dos livros da Agatha Christie, chegamos ao seu 55º livro, publicado em 1951.
Dessa vez não temos nenhum personagem famoso como detetive, mas sim uma jovem comum. Na minha percepção a Agatha sempre faz as protagonistas mulheres meio bestas e iludidas. A garota conheceu um cara aleatório em Londres, numa praça, por 5 minutos. Ficou sabendo que ele ia pra Bagdá e ela tinha acabado de ser demitida. Ele foi embora, ela só sabe o primeiro nome dele e para quem ele trabalha. O que ela faz? Arranja um emprego de acompanhante para uma senhora que vai para Bagdá e seu único pagamento são as custas da viagem. Ele tem dinheiro pra se manter ao chegar lá? Não. Ela conhece alguém lá? Não. Ela fala árabe? Não. Mas ela vai mesmo assim atrás do homem. Esse é o nível das protagonistas femininas da Agatha.
Por outro lado, diferente de livros anteriores, a protagonista se sai muito bem. Ela é super inteligente e consegue sobreviver e amadurecer ao longo da história, chegando mesmo a reconhecer o quão idiota ela foi ao fazer aquela viagem por causa de homem. E no fim, não temos aqueles romances estranhos que normalmente a Agatha faz acontecer, mas apenas a leve sugestão de um futuro romance, o que eu achei muito apropriado pra história (e fiquei torcendo pra esse romance acontecer).
A história é bem dinâmica, e embora eu tenha ficado um pouco surpresa com a revelação do gênio do crime por trás da organização criminosa, pensando em retrospecto, fazia total sentido e chegava a ser óbvio, é que a gente perde a atenção ao longo da história, mas era óbvio.
Eu gostei bastante da história, a Agatha escreve muito bem, embora não seja um livro perfeito. De toda forma, valeu muito a pena a leitura.
Ressalto um ponto que me chamou a atenção, que foi a referência que um personagem faz a "viajar para a África negra". Fiquei sem entender o que isso quis dizer e fui pesquisar no google. Encontrei essa definição no site PrePara Enem:
"A África Negra, também chamada de África Subsaariana, é a região da África que se encontra ao sul do deserto do Saara. A expressão “África Negra” foi criada no século XIX pelos colonizadores europeus para se referir à região da África cuja população era majoritariamente negra e que ainda não tinha sido totalmente “descoberta” pela civilização ocidental."
Pude entender então que, assim como eu pensei (não pesquisei isso ao ler o livro, mas agora ao escrever a resenha), se trata de um termo racista. Embora isso não seja novidade nos livros da Agatha, não aparece muitas vezes (inclusive, fazia bastante tempo que não aparecia) e esse é o único termo desse tipo nessa história.
Outro ponto também é que não sei se gosto da forma como ela coloca a cidade de Bagdá e seus habitantes, pra mim, soou uma visão bastante colonialista e talvez até preconceituosa, mas não tenho conhecimento sobre como era a cidade de fato na época e parece que a Agatha conhecia a cidade quando escreveu esse livro, então pode ser fruto da visão que ela teve do lugar.