Fernanda631 31/07/2023
A Maldição do Espelho
A Maldição do Espelho foi escrito por Agatha Christie e foi publicado em 12 de novembro de 1962.
Nessa história estamos de volta ao vilarejo de St. Mary Mead, lar da querida senhorinha Miss Marple. O local está passando por grandes transformações por causa do desenvolvimento. Como Agatha Christie publicou livros durante praticamente todo o século XX, ela vivenciou muitos momentos históricos e muitas transformações na sociedade. E em suas obras, sempre que podia, representava isso. Miss Marple e suas contemporâneas chamavam de desenvolvimento as novas áreas da cidade com casas e comércios modernos, que destoavam muito do que elas estavam acostumadas.
O enredo do livro nos apresenta a mais nova moradora do pequeno vilarejo – cheio de pessoas fofoqueiras – de St. Mary Mead, cidade onde mora Jane Marple. A “novidade no pedaço” é uma famosa atriz de cinema, Marina Gregg. A atriz recentemente comprou e reformou Gossington Hall, uma mansão que aparece em outro livro da autora – essa mansão também é cenário de Um Corpo na Biblioteca (1942). Existem outras referências à outros livros de Miss Marple como Assassinato na casa do pastor (1930) e Os treze problemas (1932).
Eu acredito que essas menções não interferem na leitura, você pode ler os livros da autora fora de ordem, porém, perde esses pequenos detalhes muito interessantes que costuram os livros, justando parte das histórias dos personagens.
O livro conta a história de Marina Gregg, uma grande atriz de cinema que leva uma vida aparentemente perfeita e se muda para a mansão Gossington Hal, a mesma mansão em que acontece Morte na Biblioteca. Após a morte de seu marido, a senhora Bantry vendeu o local, passou nas mãos de alguns tipos, e acabou sendo comprada por Gregg e seu marido. Se o crime anterior não havia sido cometido no lugar, bem, o crime atual foi. Durante uma recepção beneficente, uma mulher que comparecia à cerimônia, Heather Badcock.
O mistério tem início quando Marina Gregg organiza uma festa beneficente em Gossington Hall, e, durante a recepção, uma das convidadas, a falante Heather Badcock, é envenenada e morre quase nos braços de Marina Gregg.
A questão é que Heather morreu depois de beber de uma taça passada a ela pela própria Marina e que inicialmente era destinada a atriz. Ou seja, marina era o alvo e Heather morreu por acidente.
Mas será mesmo? Há muitos mistérios em volta da polêmica vida de Marina e muitas pessoas tiveram a oportunidade de cometer o crime. E é claro que sendo muito conhecida na cidade por ser uma astuta detetive amadora, Miss Marple é acionada para ajudar a resolver o caso.
Então, Dermot Craddock conta com a ajuda da Senhora Dolly Bantry, que estava presente na recepção e tem detalhes do acontecimento, e de Miss Marple para solucionar o crime.
Apesar de não estar presente na festa por conta de uma indisposição, Jane Marple fica sabendo de todos os detalhes do ocorrido através de sua fiel amiga Dolly Bantry, que repassa o que aconteceu e continua a acontecer na cidade em relação ao mistério do envenenamento. Durante as investigações, porém, surge a dúvida: seria Heather o verdadeiro alvo do veneno?
As personagens desse livro são bem marcantes. A atriz Marina Gregg, “suposto” alvo do envenenamento é uma mulher insuportável. Está em seu quarto casamento e parece estar o tempo todo em cima de um palco atuando. Todas as suas falas e atos são dramáticos, como se ela vivesse eternamente em um palco de teatro. Me peguei imaginando se as estrelas da época em que o livro foi escrito eram realmente assim. O atual marido de Marina, Jason Rudd, vive para a mulher, a idolatra e tenta a proteger de tudo e de todos; e esse excesso de zelo não deixa de ser suspeito. Na lista de suspeitos temos também a secretária “faz-tudo” de Marina, Ella Zielinksky. Extremamente eficiente, adora reclamar da chefe e falar mais do que deve, assim como a pobre Heather.
Esse é um enredo muito bem construído, que leva o leitor a questionar os acontecimentos e as mortes, tentando desvendar junto à Miss Marple quem é o verdadeiro assassino. Não é à toa que Christie ganhou o apelido de Rainha do Crime, é impressionante a forma como as pontas todas são amarradas ao final do livro, sem deixar a história com uma resolução sem pé nem cabeça.
Além do que eu já comentei sobre a representação do desenvolvimento, Agatha Christie, a cada livro, representava o envelhecimento de suas personagens recorrentes. Aqui, Miss Marple está mais debilitada e sendo cuidada pela terrível Srta. Knight (que mais da dores de cabeça em Miss Marple do que a ajuda). E é muito interessante que a autora tenha pensado nesses detalhes que fazem todo o livro ficar muito mais crível.