Fran.Andrighetti 04/03/2018
Ecce Homo - Friedrich Nietzsche
Nietzsche é uma dos meus pensadores favoritos, eu tenho uma ligação muito forte com a linha de pensamento que ele desenvolveu, seus conceitos de ética e moral e sua desilusão com a humanidade. Estou com um projeto de reler as obras dele, iniciei este ano com Ecce Homo e pretendo terminar até ano que vem.
Ecce Homo (a tradução seria algo do tipo "Eis o homem") Nietzsche fala sobre si, seu processo de pensamento, suas ideias e teorias, como uma autobiografia. Diferente da grande maioria das pessoas, Nietzsche se conhecia muito bem, ele se dedicou em estudar a si próprio, se questionar e entender antes de questionar o mundo a sua volta.
Vale ressaltar que Nietzsche viveu de 1844 a 1900, então a construção do seu pensamento se deu naquele período da sociedade alemã. Mas ao encararmos suas obras vemos o quanto esse pensador estava a frente de seu tempo, o quanto suas teorias são validas em pleno século XXI.
Outro ponto que vale expor aqui é o fato de que Nietzsche não gostava da ideia de ser um exemplo para outras pessoas. Em uma passagem do seu livro ele ressalta que "preferiria mil vezes mais ser considerado como um sátiro do que como um santo". Para o Nietzsche o ser humano tem que estar em constante evolução, tem que se superar e nunca se acomodar.
É uma leitura muito difícil? Sim. Ler filosofia é sempre difícil. Ler filosofia alemã é muito mais dificil. Ler Nietzsche é quase uma tortura. Não pelo jeito que o autor escreve, mas pelo peso do que ele escreve. Ninguém lê Nietzsche e continua o mesmo.
A maioria das pessoas que leem Nietzsche prefere deixar Ecce Homo para o final, por trazer referencias as outras obras do autor. Bom, se você não é intimo da filosofia desse complexo autor, também sugiro que deixe este, para o final. O site Opinião Central, elaborou uma "ordem" para facilitar a leitura de Nietzsche para quem está começando:
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Comecei a ler Nietzsche pela ordem errada. Equívoco comum de iniciar pelo livro mais famoso e também o mais embaçado. Recentemente escrevi uma resenha de “Assim falou Zaratustra” onde contei sobre isso e minhas impressões sobre o livro e o autor (clique aqui para ler ).
Várias pessoas perguntam sobre uma ordem razoável para iniciar suas leituras e esse post tem como objetivo auxiliá-las. Ele já havia sido publicado antes, mas eu achei melhor revisitá-lo e alterar um pouco a ordem anterior indicada.
Fica sempre o aviso de que Nietzsche não é um autor que escreve de forma direta. Às vezes um raciocínio é largado no meio para ser retomado páginas depois. Outras ocasiões existem poesias e aforismos no meio de um texto mais longo. Dependendo da obra ele escreve por parábolas. Não existe um compromisso com a didática e o filósofo não está preocupado em pegar ninguém pela mão para ser entendido.
Espera-se que seu leitor esteja disposto a entrar em contato com eixos de pensamento por vezes insensíveis aos padrões de moral costumeiros. Deve-se entender o homem e sua época, com seus insights profundos e seus preconceitos. É uma leitura que coloca o leitor em conflito com suas zonas de conforto estabelecidas pela tradição, mas que também exige filtragem e parcimônia com passagens muitas vezes insensíveis e que desprezam a solidariedade e os avanços democráticos.
Nietzsche é um elitista: despreza a idéia democrática e afasta-se da multidão. Defende os fortes, é frio com os fracos e humildes, apregoa que o ser humano deve desenvolver-se e ser autosuficiente, despreza transcendências religiosas e grandes ideologias políticas, ensina a viver o presente e a não se conformar com nada menos que uma vida plena (clique nos links para ir aos textos do blog que tratam desses assuntos). Para ele o ser humano é algo em construção, destinado a se fortalecer, abandonar tradições velhas e criar novos valores abraçando a vida sem muletas metafísicas ou supersticiosas.
Apesar de seus aforismos serem material farto para memes e fotos coloridas na Internet (e esse blog usa muitas delas também), Nietzsche não é um autor para se conhecer por frases soltas e sem contexto. Aliás, já escrevi sobre os perigos da idiotização da armadilha dos memes neste post.
Vamos começar pelas obras menos viajantes e mais didáticas e seguir para o mais complicado e enigmático.
1. Crepúsculo dos Ídolos (principalmente o capítulo “O problema Sócrates” que deveria ser a primeira leitura na obra do autor e já deixa claro aquilo que Nietzsche vai combater em todos os seus livros)
2. Para além do bem e do mal
3. Vontade de Potência
4. A Gaia Ciência
5. Humano demasiadamente Humano (parte I e II)
6. Genealogia da Moral
7. O anticristo
8. Aurora
9. Ecce hommo
10. Assim falou Zaratustra (a obra-prima de Nietzsche mas escrito em parábolas, simbolismos e que exige do leitor um conhecimento prévio de seu raciocínio)
Para mim o melhor livro do Nietzsche é Para além do bem e do mau, de todos os livros do autor, é o meu favorito (e pretendo reler esse ano).
Quanto a edição, a minha faz parte do Box lançado em 2016 pela Editora Nova Fronteira, que contém também os livros O Anticristo e Assim Falava Zaratustra. É uma edição linda, toda em capa dura, com as páginas amareladas, uma ótima diagramação, muito bonita mesmo!
Para quem se interessa por filosofia, indico esse autor/filosofo/pensador de olhos fechados.